"RÚSSIA E EUA: AMOR E ÓDIO CEGOS
Peço desculpa, mas não posso deixar de sublinhar: quando o atacante e invasor foram os EUA (falar da NATO é eufemístico, não passa dum braço armado dos EUA e de natureza ofensiva e autointitular-se "defensivo" é mera propaganda risível), ninguém teve o mesmo rancor e a mesma fúria contra os EUA, e outros membros deles ditos "aliados" (na verdade são estados vassalos), nem pediu brutais sanções contra os EUA, não ofendeu de "nazis" os presidentes americanos, a rainha de Inglaterra, e outros, não exigiu o ostracismo dos EUA, RU e outros, não clamou para que fossem expulsos do concerto das nações, etc. Por outro lado, quando os EUA agrediram ilegítima e ilegalmente (sob o ponto do direito internacional, que já de si não é muito exigente) outros povos e estados (eu publiquei recentemente um post com mais de 300 agressões militares americanas nos últimos 200 anos) deixando muitos desses países reduzidos a pó, totalmente desestruturados e, a cereja no topo do bolo, sempre, quando partiam deixando, como recordação, um governo fantoche favorável aos interesses americanos, ninguém nunca se exaltou como agora se exaltam com Putin e a Rússia. Tomemos apenas 2 ou 3 exemplos recentes: a invasão do Iraque, a sua total destruição, a ocupação militar durante 8 anos, um milhão de mortos no final da operação (dezenas de milhar de crianças), um governo fantoche e a Blackwater (a Wagner americana) a tomar conta daquilo que interessava; o petróleo. Sanções contra os americanos? Insultos ao POTUS? Clamor pela expulsão do concerto das nações? Rezas pela morte dolorosa e em sofrimento dos americanos envolvidos? Nada. Tudo isto em nome de quê? Das armas de destruição massiva, quanto às quais é humilhante falar. Claro que todos sabemos que as verdadeiras razões nunca foram reveladas - a desobediência de Saddam e do seu regime aos ditames imperiais, designadamente a recusa de vender petróleo em dólares (o maior negócio americano) e as vendas do dito aos inimigos dos EUA, entre os quais a China. E quando destruiu a Síria, reduzindo-a a escombros, provocando a maior tragédia da história daquele país, utilizando armas proibidas, provocando um tal terror que dificilmente se tornará a ver igual noutros palcos de guerra? Veio alguém desejar a morte de Obama, como agora reclamam a de Putin? E um pouco mais atrás, no Afeganistão, onde chegaram a ser utilizadas as "mães de todas as bombas" causando horrores indescritíveis a população civil e militar, alguém veio chamar criminosos aos americanos e a à NATO (embora em versão reduzida) e alguém veio dizer que o dia da derrota dos EUA e da cobarde retirada americana (depois de 20 anos de ocupação militar, tortura e terror) foi o dia mais feliz da sua vida? Já agora, na agressão ao valente e indomável povo vietnamita, que incluiu diariamente torturas diabólicas, que comparadas fariam a era medieval parecer um período de meninos de coro, alguém exigiu sanções e o isolamento dos americanos? E como é possível - o amor é cego! - desculpar as bombas atómicas sobre Nagasaki e Hiroxima? Atenção, a bomba sobre Nagasaki só foi lançada 3 dias depois da de Hiroxima, já os efeitos da primeira eram mais do que conhecidos. Aliás, as experiências anteriores já tinham sido bem elucidativas do poder de destruição atómico. E em Postdam, já os americanos tinham anunciado, em ameaça ao Japão, as caraterísticas desse ataque. Nunca, em toda a história da humanidade, foi cometida uma tal brutalidade, uma tal crueldade, uma tal ação demoníaca, ainda por cima sobre alvos civis. O que é Milosevic ao pé disto!... não deveriam todos os estados do mundo terem, nesse momento, unido esforços, para destruir os EUA, segundo as teorias agora aplicáveis à Rússia? E tome-se nota de que, todos os peritos militares o dizem, as bombas atómicas foram escusadas, uma vez que o Japão se encontrava exangue e seria derrotado, convencionalmente, com mais duas ou três semanas de guerra. Não, senhoras e senhores, as vossas atitudes não são justas nem equilibradas e têm vindo a destilar um grnade ódio à Rússia, pela ação (condenável, sem dúvida) da agressão à Ucrânia, sem que, em contraste, perante situações muito mais criticáveis e condenáveis dos EUA tenham alguma vez destilado um milésimo do ódio e da fúria que agora destilam. E isto, evidentemente, revela que a questão que vos motiva não é a justiça, nem o equilíbrio, mas apenas o amor desmedido pelos EUA e o seu império, esse amor cego e sem limites, que se confunde com o ódio e aliás é a causa das piores atrocidades humanas."
José Carmona