terça-feira, 27 de setembro de 2022

Shahed – 136: o beijo da morte Publicado em 27 27-03:00 setembro 27-03:00 2022 por César A. Ferreira

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O drone iraniano Shahed – 136 revela ao mundo a nova face da guerra: a simplicidade aliada à inovação doutrinária.

Por: César A. Ferreira

Drones não são propriamente uma novidade no campo de batalha, cumprem missões de reconhecimento, vetores não tripulados de ataque. Portanto, o desenvolvimento de uma versão de ataque de alvos determinados por reconhecimento prévio, ou de oportunidade por meio de ação autodestrutiva seria um passo esperado. Entre estes, um drone que se destaca: o iraniano Shahed – 136.

Shahed – 136 é um drone autodestrutivo, de constituição simples, com fuselagem incorporada a uma asa delta e superfícies de controle nas extremidades, possui propulsão “pusher”, impulsionado por um motor MD 550 de 50 HP. A sua estrutura é robusta, porém simples e leve, possui uma ogiva de 80 libras (36,28 kg), a sua autonomia se situa entre 1.800 e 2.500 km, dependendo muito do regime de vôo, velocidade de 185 km/h, exibe um comprimento de 3,5 metros e uma envergadura de 2,5 metros. O seu peso total é de 200 kg. Observa-se, portanto, que é um veículo marcado pela simplicidade, dotado de motorização de uso comercial, de baixa velocidade e assinatura acústica distinta, característica facilmente perceptível, todavia, é dotado de orientação inercial e/ou geolocalização por sinais satelitais, mostrou-se bastante preciso nos testes e repetiu a performance em combate real, caso do seu uso na guerra civil síria e no corrente conflito ucraniano.

A simplicidade presente neste projeto, pode-se dizer, cumpre a função de viabilizar o Shahed – 136 como loitering munition[1](termo sem tradução para a língua portuguesa), visto que atende o conceito de descartabilidade, ou seja, de ser uma arma de baixo custo e de fácil produção. Não é excepcionalmente veloz, possui uma assinatura acústica alta, no entanto, pode ser fabricado em quantidades exorbitantes e assim também ser utilizado no campo de batalha. É infinitamente mais barato do que qualquer míssil que venha a alvejá-lo, por mais simples que este míssil seja, mesmo sendo um SHORAD [2] rádio controlado ou um MANPAD [3]. Por isso, o simples uso do inimigo dos sistemas de artilharia antiaérea dotada de mísseis já será, por si, uma vitória, pois estes possuem custo orçado na casa dos milhares de dólares, valor em muito superior ao do drone…  De fato, este tipo de arma, loitering munition, tende a ressuscitar como armas de artilharia antiaérea os canhões de tiro rápido de 20, 23, 30 e 35 mm, bem como as quadras de metralhadoras pesadas, pois tais sistemas de artilharia antiaérea de tubo, então relegadas ao trabalho secundário no combate urbano, dado a obsolescência percebida na função primária, a antiaérea, agora podem retornar a sua antiga função, graças ao perigo representado pelos “drones kamikazes”.

Shahed – 136 foi utilizado no presente conflito ucraniano com sucesso apreciável. O seu debut se deu no dia 13 de setembro na cidade de Kupiansk, onde eliminou todo um comando tático ucraniano abrigado numa casa nos arredores desta cidade. Mais tarde, num outro front, Kherson, apareceram imagens e o reporte da destruição de obuseiros, consistindo em vestígios de um obuseiro rebocado M-777 A2, dois obuseiros autopropulsados 2S1 Gvozdika, de 122mm, e de dois outros obuseiros autopropulsados 2S3 Akatsiya, 152mm, além de caminhões militares. Todavia o ataque mais impressionante se deu na cidade de Odessa, onde vários alvos foram atingidos, sendo o mais impactante a edificação que sediava o “Comando Sul” de operações das armas ucranianas. As filas de ambulâncias no local demonstraram de maneira dramática a efetividade do ataque.

Pode-se dizer muitas coisas deste conflito ucraniano, entre elas, que esta é “a guerra do drone”. Tornaram-se indispensáveis e se é verdade que os drones maiores de uso tático tiveram as expectativas neles depositadas como muito elevadas e se tornando grandes decepções, caso do turco “Bayraktar TB-2”, o mesmo não se pode dizer dos menores, sejam na função de reconhecimento, caso do “Orlan” (russo), ou na função tática, exemplificados pelos drones Kub-Bla e… Shahed – 136.  

Notas:

[1]: Loitering Munition: não existe para o português uma tradução exata adequada, por isso se tem várias sugestões para traduzir este termo, tais como: “munição de vadiagem”, “munição vagante”, “munição de oportunidade”, “munição volante”, “munição aleatória”, “munição vadia”. Em geral os editores se apegam ao pouco ilustrativo “drone kamikaze”, para descrever este tipo de arma.

[2]: SHORAD – acrônimo em inglês para “Short Range Air Defense”, cujo significado em português é “Defesa Aérea de Curto Alcance”.

[3]: MANPAD – acrônimo em inglês para “Man Portable Air Defense System”, que em português ganha o nome de “Sistema de Defesa Aérea Individual, ou de Ombro”.

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