quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ucrânia, o imbróglio, e o declínio do império norte-americano.

Ucrânia, o imbróglio, e o declínio do império norte-americano. 20207.jpeg

"É tempo de se fazer um debate nacional - e um referendo a ser iniciado pelos cidadãos norte-americanos - sobre se, sim ou não, os EUA devem empreender imediatamente o autodesarmamento nuclear unilateral. Pode ser exercício salutar e exemplar, em democracia participativa."


Ao discutir a "crise" Ucrânia-Crimeia, pode ser higiênico para os norte-americanos, incluindo os políticos, os especialistas dethink-tank e os torsos falantes de televisão,  lembrar dois momentos notáveis, "às primeiras luzes do alvorecer"[1] do Império Norte-americano: em 1903, no início da Guerra Hispano-Americana, sob o governo do presidente Theodore Roosevelt, os EUA tomaram a parte sul da Baía de Guantánamo mediante um Tratado Cuba-EUA que reconhece a soberania inafastável de Cuba sobre essa base; um ano depois da Revolução Bolchevique, em 1918, o presidente Woodrow Wilson despachou 5 mil soldados dos EUA para Arkhangelsk no norte da Rússia, para participar da intervenção Aliada na Guerra Civil da Rússia, que abriu as cortinas para a Primeira Guerra Fria. Para anotar: em 1903, não havia Fidel Castro em Havana; e em 1918 não havia Joseph Stálin no Kremlin.

Pode ser também saudável notar que o impasse sobre Ucrânia-Crimeia[2] acontece no interminável eco da Segunda Guerra Fria, no momento em que o sol está começando a pôr-se no Império Norte-americano, enquanto emerge um novo sistema internacional de várias grandes potências.

Claro, os impérios têm modos diversos não só de nascer e brilhar, mas também de declinar e expirar. O que hoje tem especial relevância apareceu como uma das questões percucientes e desafiadoras de Edward Gibbon sobre o Declínio e Queda do Império Romano. Gibbon acabou por concluir que, mesmo com as causas do declínio e da ruína de Roma já satisfatoriamente provadas e explicadas, permanece ainda o grande enigma de por que "subsistiu por tanto tempo." De fato, as causas internas e externas de ter subsistido são muitas e complexas. Mas um aspecto merece atenção especial: a confiança na violência e na guerra, tentando retardar e adiar o inevitável.

Nos tempos modernos e contemporâneos, os impérios europeus continuaram a lutar, não apenas entre eles mesmos, mas também contra aqueles "seus novos cativos, servos obstinados, metade demônio, metade criança,"[3] sempre que se atrevessem a resistir ou eventualmente se levantassem contra seus amos imperiais-coloniais. Depois de 1945, na Índia e no Quênia; na Indochina e Argélia; no Irã e Suez; no Congo. Desnecessário dizer: até hoje o ainda vigoroso império dos EUA e os decaídos impérios europeus terçam lanças no esforço para salvar o que possa ser salvo nas terras ex-coloniais por todo o Oriente Médio Expandido, África e Ásia.

Não há como negar que o império excepcionalmente informal dos EUA, sem colônias de ocupação, expandiu-se por todo o globo durante e depois da 2ª Guerra Mundial. Fez o que fez, porque foi poupado da horrenda e imensa perda de vidas, da devastação material e da ruína econômica que se abateram sobre as outras grandes potências beligerantes, Aliados e Eixo. Para completar, o "complexo industrial-militar" sempre em expansão, disparou, do dia para noite, o poder circunstancial e momentaneamente único, marcial, econômico e soft, da Pax Americana.

Mas agora, o peculiar Império Americano já ultrapassou o momento do apogeu. Seus tendões econômicos, fiscais, sociais, cívicos e culturais estão seriamente desgastados. Ao mesmo tempo, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e Irã reclamam seu lugar no concerto das potências mundiais no qual, por bom tempo, cada um e todos jogarão pelas regras de um novo modelo de mercantilismo numa soi-disant economia capitalista de "livre mercado" globalizante.

A esplêndida era norte-americana de "coturnos no solo" e "mudança de regime" está começando a chegar ao fim. Mesmo na esfera hegemônica decretada pela Doutrina Monroe, há um mundo de diferença entre as intervenções de antes e de hoje. Nos nem tão distantes bons velhos tempos, os EUA intrometeram-se sem disfarces na Guatemala (1954), Cuba (1962), República Dominicana (1965), Chile (1973), Nicarágua (1980s), Grenada (1983), Bolívia (1986), Panamá (1989) e Haiti (2004), quase invariavelmente sem entronizar e dar posse a "regimes" mais democráticos e socialmente progressistas. Atualmente, se pode dizer que Washington caminha com muito mais cautela, servindo-se de uma parafernália de criptoagências tipo-ONGs e seus agentes, na Venezuela. Assim faz porque em todos os domínios, exceto o militar, o império está não só muito excessivamente estendido e disperso, mas, também, porque, ao longo dos últimos poucos anos, governos/"regimes" de tendência à esquerda emergiram em cinco nações norte-americanas os quais, muito provavelmente, se tornarão cada vez menos economicamente e diplomaticamente dependentes de, e menos temerão, os EUA.

Embora em vasta medida subliminarmente, quanto mais forte o sentimento de decadência e o medo da decadência e do declínio imperiais, maiores a húbris nacional e a arrogância do poder que atravessam as linhas partidárias. Na verdade, o tom e o vocabulário nos quais neoconservadores e conservadores de centro-direita continuam a trombetear o autoformatado e historicamente sem similar excepcionalismo dos EUA, a grandeur e a indispensabilidade, são mais agudos que os "da esquerda", na qual, nos apertos, todos tendem a ter medo, primeiro, da própria sombra. Atualmente, a posição e a retórica de Winston Churchill são emblemáticas dos conservadores e seus parceiros de viagem na época do declínio imperial do Ocidente que se sobrepôs com a ascensão e queda da União Soviética e do comunismo. Churchill foi ferozmente anti-Soviético e anticomunista de primeira hora e tornara-se discreto admirador de Mussolini e Franco antes, em 1942, proclamando alto e claro: "Não me tornei primeiro-ministro do rei para comandar a liquidação do Império Britânico."

Àquela altura, Churchill também já se tornara há muito tempo proclamador do mantra ideologicamente envenenado do "appeasement" [aprox. "apaziguamento", mas com traço semântico de "medo de lutar", "medo de enfrentar" e, até, de "covardia"], que faz dupla perfeita com seu discurso famoso "Cortina de Ferro" de março de 1946.

Desnecessário dizer, jamais uma palavra sobre Londres e Paris, na reunião de Munique, depois de terem deliberadamente ignorado ou recusado a oferta de Moscou para colaborar na questão tcheca (Sudeten). Nem Churchill nem sua torcida organizada jamais concederam que o Pacto Ribbentrop-Molotov (Pacto Nazi-Soviético) de agosto de 1939 foi selado um ano depois do Pacto de Munique, e que ambos foram movimentos de xadrez geopolíticos e militares igualmente ideologicamente infames.

Stálin foi tirano indizivelmente cruel. Mas foi a Alemanha Nazista de Hitler que invadiu e desgraçou a Rússia Soviética pelo corredor da Europa Central e Oriental. E foi o Exército Vermelho, não os exércitos dos aliados ocidentais, que, a custo horrendo, quebrou a espinha dorsal da Wehrmacht.

Se as grandes nações da União Europeia hesitam hoje em impor sanções econômicas totais contra Moscou pela atitude de desafio na Crimeia e Ucrânia, não é só por causa do efeito bumerangue desproporcional contra elas. As potências ocidentais, especialmente a Alemanha, têm memória e narrativa continentais, mais que transatlânticas, da Segunda Crise e Guerra dos Trinta Anos da Europa, seguida imediatamente, praticamente até hoje, pela Guerra Fria dirigida e incansavelmente financiada pelos EUA contra "o império do mal".

Durante o reinado de Nikita Khrushchev e Mikhail Gorbachev, a OTAN, fundada em 1949 e essencialmente liderada e financiada pelos EUA, foi inexoravelmente empurrada diretamente para ou contra as fronteiras russas. Foi feito ainda mais deslavadamente depois de 1989-1991, quando Gorbachev libertou as "nações cativas" e assinou a favor da reunificação da Alemanha. Entre 1999 e 2009, todas as nações da Europa Oriental libertadas - membros do ex-Pacto de Varsóvia -, em torno da Rússia, e três ex-repúblicas soviéticas foram integradas à OTAN, até eventualmente comporem 1/3 dos 28 países membros dessa aliança militar do Atlântico Norte.

Só a Finlândia optou por neutralidade desarmada dentro da esfera soviética e depois pós-soviética. Do dia para a noite, ou quase, a Finlândia passou a ser acusada, não só de estar "apaziguando-amolecendo" com a potência nuclear sua vizinha, mas, também, de constituir perigoso modelo para o resto da Europa e, na sequência, para o então chamado Terceiro Mundo.

Na verdade, durante a Guerra Fria perpétua, em quase todo o "mundo livre", a palavra e o conceito de "finlandização" tornaram-se ferramentas de maldição, equivalentes a "comunismo", ainda mais porque foram adotados pelos que criticavam os sacerdotes da Guerra Fria e advogavam a favor de uma "terceira via" ou do "não alinhamento". Ao mesmo tempo, a OTAN, quer dizer, Washington, olhava intensamente na direção das duas: da Geórgia e da Ucrânia.

Dia 2/3/2014, o Departamento de Estado dos EUA distribuiu uma "declaração sobre a situação na Ucrânia, pelo Conselho do Atlântico Norte", no qual declarou que "a Ucrânia é considerada parceira da OTAN e membro fundador da Parceria para a Paz (...)" e que "os aliados da OTAN continuarão a apoiar a soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia, e o direito do povo ucraniano de determinar o próprio futuro, sem interferência externa." O Departamento de Estado também declarava que "além de sua tradicional defesa das nações aliadas, a OTAN lidera a Força Internacional de Segurança e Assistência [orig. International Security Assistance Force (ISAF)] coordenada pela ONU no Afeganistão, e tem missões em andamento nos Bálcãs e no Mediterrâneo; a OTAN também mantém exercícios extensivos de treinamento e oferece apoio de segurança a parceiros por todo o mundo, inclusive à União Europeia em particular, mas também à União Africana."

Em questão de dias, depois do movimento de monitoramento de Putin na Ucrânia, a OTAN, especificamente o presidente Obama, reagiu: um destróier armado com mísseis atravessou o Bósforo para o Mar Negro para exercícios navais, com navios das Marinhas romena e búlgara; jatos de combate F-15 foram despachados para reforçar as missões de patrulha da OTAN sobre os estados do Báltico (Estônia, Latvia e Lituânia); e um esquadrão de bombardeiros F-16 e uma companhia completa de "coturnos em solo" foi deslocada às pressas para a Polônia.

Claro: esses deslocamentos e reforços foram ostensivamente ordenados por causa daqueles aliados da OTAN ao longo da fronteira da Rússia, todos "regimes" que, durante as duas guerras e especialmente durante os anos 1930s, não haviam sido exatamente exemplos de democracia; e porque sua fobia anti-Rússia & anticomunismo os aproximara, todos, da Alemanha nazista. E depois que as legiões de Hitler entraram na Rússia pelas fronteiras, setores não insignificantes da sociedade política e civil nesses países não foram exatamente meros transeuntes inocentes nem meros colaboradores na Operação Barbarossa e no judeicídio.

Por via das dúvidas, o secretário de Estado John Kerry, sacudidor-de-dedo-em-chefe do governo Obama, só denunciou o deslocamento ordenado por Putin na e em torno da Ucrânia-Crimeia como "ato de agressão completamente escancarado em termos de pretexto". Também por via das dúvidas, contudo, ele logo acrescentou que "não se invade outro país". Foi o que disse, e num momento em que nada havia de ilegal no movimento de Putin.

Mas Hillary Clinton, predecessora de Kerry no mesmo cargo, e muito provável candidata à indicação pelos Democratas à presidência, que muito mais e mais diretamente demoniza Putin como agente não reconstruído da KGB ou mini-Stálin, saltou logo à jugular: "Se está soando familiar... É como Hitler fez nos anos 30s." Também, como que para enfraquecer qualquer crítica ao seu surto verbal, Clinton logo acrescentou que "Só quero que as pessoas tenham um pouco de noção histórica". Quer dizer: quer que 'as pessoas' aprendam as táticas nazistas no cenário da 2ª Guerra Mundial.

Quanto ao senador Republicano John McCain, derrotado por Barack Obama à presidência em 2008, operava no mesmo comprimento de onda. Disse que a política externa "acovardada" de seu arquirrival praticamente induzira o movimento agressivo de Putin, com a implicação não dita de que o presidente Obama seria um neo-Neville Chamberlain, avatar do "apaziguamento-amolecimento".

Mas foi o senador Republicano Lindsey Graham quem disse com todas as letras o que já se sussurrava pelos corredores do establishment  da política exterior e em tantas redações da imprensa-empresa dominante. Pregou que se criasse "um cordão democrático em torno da Rússia de Putin." Para isso, Graham propôs que se iniciassem as providências para tornar a Geórgia e a Moldávia membros da OTAN.  Graham também advogou um aumento na capacidade militar dos membros da OTAN "mais ameaçados" junto às fronteiras da Rússia, além  de expansão nos sistemas de radar e de mísseis de defesa. 

Em resumo, estaria "amarrando a bandeira da OTAN o mais firmemente possível, em torno de Putin" - que é a política da OTAN desde 1990.  Assumindo diferentes tarefas, enquanto o senador Graham tocava o tambor Republicano no Capitólio e para a imprensa-empresa, o senador McCain correu para Kiev, para dar prova da firmeza, decisão, competência e músculos dos "outros" EUA, tão diferentes da tibieza, da frouxidão do presidente Obama e de sua equipe de política exterior. Esteve na capital da Ucrânia pela primeira vez em dezembro; e novamente em meados de março de 2014, liderando uma delegação bipartidária de oito senadores, todos com ideias parecidas.

Na Praça Maidan em Kiev, ou Praça Independência, McCain não apenas se misturou como também discursou para a massa de ferozes nacionalistas anti-Rússia, incluídos os não poucos neofascistas; também andou por lá ao lado de Victoria Nuland, secretária de estado assistente dos EUA para assuntos europeus e eurasianos. Já se falou muito daquele infeliz ou revelador "Foda-se a União Europeia" dela, na conversa gravada com o embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Ryatt; e da farta distribuição de docinhos na Praça Maidan. O que interessa é que Nuland é parceira assumida e consumada doestablishment da política externa imperial de Washington, serviu aos governos Clinton e Bush, antes de subir a bordo do governo Obama; e é amiga muito próxima de Hillary Clinton.

Além disso, ela é casada com Robert Kagan, mago da geopolítica que, embora visto como neoconservador, dá-se igualmente bem, como a esposa, tanto com os Republicanos importantes quanto com os Democratas importantes. Foi assessor para política externa de John McCain e Mitt Romney durante a campanha presidencial, duas vezes, em 2008 e 2012, antes de o presidente Obama revelar ao mundo que esposava alguns dos principais argumentos de The World America Made (2012), o mais recente livro de Kagan. Nesse livro, Kagan ensina modos de preservar o império, controlando-o com algo como 12 forças navais construídas em torno de invencíveis porta-aviões movidos a energia nuclear, com o que expandirá o Mare Nostrum dele até o Mar do Sul da China e o Oceano Índico.

Como discípulo de Alfred Thayer Mahan, Kagan naturalmente se beneficiou, para consumar sua entréenos círculos próximos dos fazedores e agitadores das políticas exterior e militar dos EUA, e passou anos na Carnegie Endowment e na Brookings Institution. Isso, antes de, em 1997, tornar-se cofundador, com William Kristol, do neoconservador "Projeto Para o Novo Século Norte-americano" [orig. Project for the New American Century], comprometido com promover a "liderança global" dos EUA, à caça da segurança nacional e dos interesses dos EUA. Poucos anos depois, quando esse think tank expirou, Kagan e Kristol passaram a ter papel chave na Iniciativa de Política Exterior [orig. Foreign Policy Initiative], descendente ideológico linear do outro.

Mas a questão não é que a démarche de Victoria Nuland na Praça Maidan possa ter sido indevidamente influenciada pelos escritos e engajamentos políticos do marido. De fato, na questão ucraniana, o mais provável é que ela esteja mais atenta a Zbigniew Brzezinski, outro especialista em geopolítica de alta visibilidade o qual, contudo, nada exclusivamente em águas Democratas já desde 1960, quando foi conselheiro de John F. Kennedy durante a campanha eleitoral à presidência e tornou-se conselheiro de segurança nacional do presidente Jimmy Carter. Pesadamente fixado na Eurásia, Brzezinski parece montado mais nos ombros de Clausewitz, que de Mahan. Mas os dois, Kagan e Brzezinski, são imperialistas norte-americanos de sangue quente.

Em 1997, em seu O Grande Tabuleiro de Xadrez, Brzezinski escreveu que "a luta pela primazia global continuará a ser disputada" no "tabuleiro de xadrez" eurasiano,  e que aquele é um "novo e importante espaço [nesse] tabuleiro de xadrez (...) A Ucrânia foi um pivô geopolítico porque até a sua existência como país independente ajuda a transformar a Rússia." De fato, "se Moscou recupera o controle sobre a Ucrânia, com seus [então] 52 milhões de habitantes e ricos recursos, além do acesso ao Mar Negro", a Rússia "automaticamente recupera condições para tornar-se poderoso estado imperial, alastrando-se para Europa e Ásia."

O roteiro não escrito de Brzezinski, idêntico ao dos conselheiros para política exterior de Obama é: intensificar os esforços do Ocidente - leia-se: dos EUA - por todos e quaisquer meios, para separar a Ucrânia da esfera de influência russa, incluindo especialmente a Península do Mar Negro que dá acesso ao leste do Mediterrâneo pelo Mar Egeu.

Presentemente, mais do que se focar nos projetos geopolíticos e objetivos da "agressão" russa contra Ucrânia-Crimeia, Brzezinski virou os holofotes de sua pregação contra as intensões e movimentos (para ele sempre nefandos) de Putin, sobre o Grande Tabuleiro de Xadrez. Admitir que Putin ande livremente na Ucrânia-Crimeia seria "semelhante às duas fases da tomada, por Hitler, do Sudeten, depois de Munique, em 1938, e a ocupação final de Praga e da Tchecoslováquia no início de 1938."  Sem discordância possível, "muito depende da clareza com que o Ocidente faça saber ao ditador no Kremlin - em parte arremedo cômico de Mussolini, sem esquecer o arremedo muito mais grave, de Hitler - que a OTAN não poderá ser passiva, se eclodir uma guerra na Europa." Porque se a Ucrânia for "esmagada, com o Ocidente apenas assistindo, a nova liberdade e a segurança de Romênia, Polônia e das três repúblicas do Báltico também serão ameaçadas."

Depois de ter ressuscitado a teoria do dominó, Brzezinski exige que o Ocidente "reconheça imediatamente o atual legítimo governo da Ucrânia" e garanta "privadamente (...) que o exército ucraniano pode contar com imediata e direta ajuda do ocidente, para reforçar suas capacidades de defesa." Ao mesmo tempo, "as forças da OTAN (...) devem ser postas em alerta máximo, para o caso de o envio por ar de forças aeroembarcadas da Europa e dos EUA ser politicamente e militarmente significativo." Como para complementar, Brzezinski sugeriu que além de "todos os esforços para evitar erros que possam levar a guerra", o Ocidente deve reafirmar seus "desejos de acomodação pacífica (...) [e] garantir à Rússia que não está tentando arrastar a Ucrânia para a OTAN nem voltá-la contra a Rússia."  Mirabile dictu. Mas que maravilha! Que ideia oportuna! Brzezinski, como Henry Kissinger, geopolítico seu parceiro, com a mesma cabeça imperial de Guerra Fria, sugeriu uma espécie de Finlandização da Ucrânia -, mas, desnecessário dizer, não dos demais estados da fronteira leste. E sem esquecer que, na verdade, proposta assemelhanda já fora feita, de fato, por Sergey Lavrov, ministro de Relações Exteriores da Rússia.

Claro, os tipos do tipo Kagan, Brzezinski e Kissinger continuam a elogiar o serviço excepcional que os EUA prestaram na "mudança de regime" em Kiev - que resultou num governo no qual neofascistas e ultra nacionalistas da vanguarda da Praça Maidan estão bem representados.

Uma vez que quem critique as más intenções dos EUA é rapidamente desqualificado como liberal idiota de esquerda contratado para exagerar o lado escuro da força antidemocrática dos EUA, pode ser útil ouvir o que diz alguém que, sobre o tema, pode ser declarado absolutamente confiável. Abraham Foxman, diretor nacional da Liga Antidifamação [orig. Anti-Defamation League] e renomado inquisidor-chefe contra o antissemitismo, já disse que "não há dúvidas de que a Ucrânia, como a Croácia, foi um dos lugares onde milícias locais tiveram papel central no assassinato de milhares de judeus durante a 2ª Guerra Mundial." E que o antissemitismo "que absolutamente não desapareceu na Ucrânia (...) gerou em meses recentes vários incidentes de antissemitismo e há na Ucrânia pelo menos dois partidos, Svoboda e Setor Direita, que incluem entre seus quadros nacionalistas extremistas e antissemitas."

Mas, tendo dito isso, Foxman insiste que "é pura demagogia e esforço para racionalizar comportamento criminoso dos russos invocar o ogro do antissemitismo na luta na Ucrânia (...), porque se pode dizer que há mais antissemitismo manifesto no movimento planetário de Occupy Wall Street, do que na revolução em andamento na Ucrânia."  A verdade é que Putin "joga a carta do antissemitismo" como joga a carta de Moscou "querer proteger os russos étnicos contra alguma pretensa agressão de extremistas ucranianos". Pois mesmo assim, porém, ainda assim, para Foxman, "é errado e repreensível sugerir que as políticas de Putin na Ucrânia tenham algo a ver com políticas nazistas durante a 2ª Guerra Mundial."

Mas, entretanto, contudo, porém, Foxman apressa-se a explicar que "não é absurdo evocar a mentira de Hitler" sobre o suplício dos alemães do Sudeten ser comparável a "exatamente" o que "Putin está dizendo e fazendo na Crimeia", o qual (Putin) tem mesmo, sim, de ser "condenado (...) com o mesmo empenho com que o mundo deve condenar o movimento dos alemães no Sudeten."

Essa argumentação sinuosa e torturada está em perfeita harmonia com o que dizem os linha-duras norte-americanos e israelenses, que obram para conter e fazer recuar uma grande potência ressurgente russa, como fazem contra a Síria e o Irã, na "área próxima", na Europa e na Ásia.

Ouvindo Brzezinski McCain, Washington está reunindo suas forças nos estados do Báltico, especialmente na Polônia, com vistas a ter material acumulado para obter novas sanções. Mas essa intervenção à moda antiga estará cortando gelo fino, a menos que seja totalmente organizada, militarmente e economicamente, com os membros peso-pesado da OTAN - o que parece improvável. Claro que os EUA têm drones e armas de destruição em massa. Mas a Rússia também tem.

Seja como for, para imperialistas não reconstruídos, e para o AIPAC sionista, o xis da questão não é a Europa "próxima" da Rússia, mas a re-emergência do Oriente Médio Expandido, atualmente na Síria e no Irã e, isso, num momento quando, segundo Kagan, o Golfo Persa empalidece, em importância econômica e estratégica, se comparado à região do Pacífico Asiático, onde está despertando a gigante China a qual, já agora, apenas semidespertada, é a segunda economia do mundo - equivalente a mais da metade da economia dos EUA - e quase inacreditável 3ª maior detentora de papéis da dívida pública dos EUA, de longe o maior detentor de papeis do Tesouro dos EUA.

Em resumo, o não regenerado império-EUA quer ativamente conter, ao mesmo tempo, a Rússia e a China usando seu bom e velho modus operandi, começando ao longo e para além da Europa "próxima" da Rússia e o Mar do Sul da China e Estreito de Taiwan que conecta o Mar do Sul da China ao Mar do Leste da China.

Por causa das sempre crescentes limitações de orçamento, Washington já há muito tempo reivindica que seus principais parceiros na OTAN compareçam e metam lá seus pés financeiros e militares. Esse arrocho fiscal aumentará exponencialmente com o pivoteamento para o Pacífico, que exige gastos sempre crescentes de "defesa", que não tendem a ser partilhados com alguma aliança Ásia-Pacífico semelhante à OTAN.

Embora muito provavelmente haja cortes nas bases militares no mundo atlântico e no Oriente Médio, e com o realinhamento geográfico dos EUA, o dinheiro economizado de algumas bases será gasto, multiplicado várias vezes, no reforço e expansão de frota sem rivais de uma dúzia de forças tarefas construídas em torno de porta-aviões movidos a energia nuclear.

Afinal, os oceanos Pacífico e Índico somados equivalem, fácil, a mais que o dobro do Atlântico; embora, sempre segundo Kagan, a China ainda não seja "ameaça existencial", já está "desenvolvendo um ou dois porta-aviões (...) mísseis balísticos navais mar-mar e terra-mar (...) além de submarinos." E já hoje se veem por ali pontos de conflito comparáveis à Crimeia, Báltico, Síria e Irã: a disputa entre Japão e China pelo controle de ilhas e do espaço aéreo sobre o potencialmente rico em petróleo Mar do Sul da China; e o confronto sino-japonês em que se disputam as Ilhas Senkaku/Diaoyu no Mar do Leste da China.

Embora seja perfeitamente normal que Taiwan, Japão, as Filipinas e a Coreia do Sul vivam tensões, até relações conflituosas, com a China e a Coreia do Norte, é coisa radicalmente diferente, agora, os EUA porem-se a OTAN-izar todos os conflitos, em nome de seu próprio interesse imperial até os confins mais distantes de seu hoje contestado Mare Nostrum.

O pivoteamento na direção do Pacífico Asiático, é claro, distenderá ainda mais o império, em tempos de crescentes restrições orçamentárias, o que reflete as limitações econômicas sistêmicas e a crise social, que geram crescentes disfunção e dissenso políticos. É verdade que raros e impotentes são os que, na sociedade política e acadêmica, questionam a GLORIA PRO NATIONE: EUA, a maior nação, excepcional, necessária e do-bem, determinada a manter o mais forte e atualizado poder militar e ciber do mundo.

E aqui está o busílis. Os EUA são responsáveis por quase 40% de todos os gastos militares do planeta, comparados aos cerca de 10% da China e aos 5,5% da Rússia. A Indústria Aeroespacial da Defesa contribui com 3% do PIB e é o maior contribuinte positivo da balança comercial da nação. As três maiores indústrias fabricantes de armas dos EUA - Lockheed Martin, Northrop Grumman e Boeing - são também as três maiores do mundo, e empregam cerca de 400 mil pessoas e absolutamente mantêm cercados todos os mercados do mundo, presos aos seus "produtos". Mais recentemente, empresas privadas contratadas da Defesa crescem por todos os cantos, numa nação-império cada dia mais odiada por meter coturnos convencionais em solos. Essas empresas privadas oferecem proporção sempre crescente de serviços de apoio contratados para servir ao pessoal militar em campo, muitos dos quais são armados e muitas vezes fornecidos em quantidade superior aos militares armados. Na Operação "Liberdade Duradoura" [orig. Operation Enduring Freedom] no Afeganistão, e na Operação "Liberdade para o Iraque" [orig. Operation Iraqi Freedom], o número de militares regulares e o número de mercenários empregados de empresas privadas foram praticamente iguais.

Essa rápida citação da ponta do iceberg militar dos EUA aqui está só para recordar o aviso do presidente Dwight Eisenhower, em 1961, de que "um imenso establishment militar" crescendo junto com "uma grande indústria de armas" [virá a ter] influência indevida, a qual, desejada ou não desejada" agredirá a democracia. Naquele momento, Ike dificilmente teria antevisto os gargantuescos crescimento e peso político desse complexo militar-industrial ou o surgimento, dentro dele, de um exército mercenário empresarial privado.

A formidável oligarquia de fabricantes e vendedores de armas no coração do complexo industrial-militar alimenta um vasto exército de lobbyistas em Washington. Em anos recentes, o lobby das armas, sempre crescente, gastou incontáveis milhões de dólares em sucessivos ciclos eleitorais, o dinheiro igualmente distribuído entre Democratas e Republicanos. Esse polvo gigantesco é como uma "terceira Casa legislativa" e absolutamente não aprovará nenhum corte substancial nos gastos militares, muito menos quando seus  movimentos são sincronizados com os de outros vastos lobbies, todos relacionados à Defesa, como o do petróleo, que não aprovará qualquer down-sizing na Marinha dos EUA, a qual, por falar dela, é de longe a principal a espionar, digo, a patrulhar, todas as rotas comerciais nos oceanos do planeta.

Há, claro, considerável força de trabalho, inclusive trabalhadores braçais, que ganham a vida diariamente no inchado setor "da defesa". Mas são menos, hoje, numa economia cujos setores industrial/manufatureiro já transferiram para o exterior muitas de suas fábricas. Esse distorcido ou excepcional orçamento federal, em economia de livre mercado, não só espalha desemprego e subempregos, como também dissemina muitas dúvidas entre a população, sobre os benefícios materiais e psicológicos do império.

Em 1967, quando Martin Luther King, Jr., rompeu seu silêncio sobre a guerra no Vietnã, falou diretamente da interpenetração da política doméstica e da política externa, naquele conflito.

Para ele, aquela guerra era intervenção imperialista no distante sudeste da Ásia, à custa da "Grande Sociedade" que o presidente Johnson, que escalou a guerra, prometera promover em casa. Depois de lamentar o terrível sacrifício de vidas dos dois lados em guerra, King previu que "uma nação que continua ano após ano a gastar mais dinheiro na defesa militar que em programas sociais e promoção da sociedade, aproxima-se da morte espiritual." Chegou a dizer que "nada, exceto um trágico desejo de morte (...) impede a nação mais poderosa da terra (...) de reordenar nossas prioridades, de tal modo que a procura pela paz se imponha sobre a procura por guerras."

Quase 50 anos depois, o presidente Obama e sua equipe, além de quase todos os Democratas e Republicanos, senadores e deputados, políticos e especialistas de jornal e televisão, continuam a ser rematados e nunca questionados imperialistas. Supondo-se que lessem Gibbon, sequer dariam atenção à pista que oferece, de que "o declínio de Roma foi efeito natural e inevitável da grandeza sem moderação" a qual, como volta do chicote sobre o lombo do chicoteador, corroeu a política, a sociedade e a cultura que a ostentavam.

Hoje, claro, sem bárbaros nos portões, não há necessidade de legiões de forças armadas, nem de coturnos, o que implica que o falimentar orçamento da "defesa" é consumido em aviões, navios, mísseis,drones, ciber-armas e armas de destruição em massa. Si vis pacem para bellum [se querem paz, prepara-te para a guerra], mas contra quem? E para ganhar o quê?

No início da "crise" ucraniana, o presidente Obama voou até Haia, para a terceira reunião da Cúpula de Segurança Nuclear [orig. Nuclear Security Summit (NSS)] criada em 2010 para impedir o terrorismo nuclear em todo o planeta.

A Cúpula de Segurança Nuclear foi invenção e projeto de Obama, apresentado em declaração oficial pelo secretário de Imprensa da Casa Branca na véspera do encontro de fundação, em abril de 2010, em Washington. A declaração lembrava que "mais de 2 mil toneladas de plutônio e urânio altamente enriquecido existem em dúzias de países" e há "18 casos documentados de roubo ou perda de urânio ou plutônio altamente enriquecidos". Acima de tudo: "sabemos que a al-Qaeda, e possivelmente outros grupos terroristas ou criminosos, estão tentando obter armas atômicas - além de materiais e expertisenecessários para fabricá-las." Os EUA "não são o único país que pode vir a sofrer com o terrorismo nuclear", mas não pode "impedi-lo todo, sozinho". Assim sendo, a Cúpula de Segurança Nuclear é o meio "para chamar a atenção para essa ameaça global" e tomar as medidas preventivas urgentemente necessárias.

Concebida e estabelecida depois do 11/9, a Cúpula de Segurança Nuclear, pela última contagem, reúne 83 países dedicados a cooperar para decapitar o monstro, reduzindo a quantidade de material nuclear vulnerável e impor segurança mais cerrada sobre todos os materiais nucleares e fontes radioativas in loco, nos vários países.  Em Haia, havia multidões de jornalistas cobrindo o evento, uns 20 chefes de estado e de governo, e quase 5 mil delegados; todos esses foram atualizados sobre os avanços já realizados nessa árdua missão autoatribuída e juraram trabalhar cada vez mais. Mas aconteceu um percalço no último instante, uma dissonância.

Sergey Lavrov, ministro de Relações Exteriores da Rússia; e Yi Jinping, presidente da China, com outros 18 votantes, recusaram-se a assinar documento que ordenava que as nações membros admitissem inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para inspecionar as medidas implantadas para conter a ameaça de terrorismo nuclear.

Claro que, inevitavelmente, a questão Ucrânia-Crimeia nublou, quase conseguiu disfarçar completamente, o tão frustrado grande sucesso da Cúpula de Segurança Nuclear. O presidente Obama tinha a mente absoluta e completamente focada: numa reunião ad hoc do G-8 em Amsterdã; numa visita ao quartel-general da OTAN em Bruxelas; numa audiência com o Papa Francisco no Vaticano, em Roma; e numa reunião improvisada às pressas com o rei Abdullah da Arábia Saudita em Riad.  Exceto na visita ao Santo Padre, da qual pode ter talvez tentado arrancar uma Indulgência, em todas as suas demais reuniões e visitas o presidente reafirmou e reproclamou que os EUA eram, são e planejam continuar a ser a que Hubert Védrine, um ex-ministro francês de Relações Exteriores, chamou de única "hiperpotência" do mundo. O imbróglio Ucrânia-Crimeia só fez acrescentar à profissão de fé e afirmação garantida, uma maior urgência.

É irônico que a agendada Cúpula de Segurança Nuclear tenha sido o abridor de cortinas para a sequência de visitas presidenciais improvisadas à plena velocidade, no alvorecer do que Paul Bracken, outro experiente e 'inserido' professor de geopolítica, assevera que seria A Segunda Era Nuclear [orig. The Second Nuclear Age] (2012) - dessa vez em mundo multipolar, não bipolar. A verdade é que Bracken meramente e magistralmente teorizou o que há muito tempo tornou-se ideia-guia e prática-guia em todo oestablishment de política exterior & militares nos EUA. É isso, ou, então, como diria Monsieur Jourdain, de Molière, há muito tempo os membros desse establishment  "já falavam em versos, sem nem saber."

A eliminação ou radical redução negociada de armas atômicas não está, absolutamente, na agenda. Foi descartada como ideal quixotesco, num mundo de nove potências nucleares: EUA, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte - e Israel. No governo de Obama, os EUA e a Rússia pós-soviética acertaram que não manteriam mais de 1.500 ogivas, número a que chegaram depois de várias reduções. Mas agora, com a re-emergência da Rússia como grande potência e do prodigioso renascimento com recrutamento forçado, da China, num mundo multipolar, os EUA parecem inclinados a cuidar de manter considerável superioridade nuclear sobre... as duas!

Embora, enquanto provavelmente Washington e Moscou já se veem às voltas com problemas da "modernização" de seus arsenais nucleares e capacidades "para disparar bombas", a China, nesse campo, ainda engatinhe.

Falando grosso pelos EUA, enquanto é potência militar e econômica não superada, Obama conseguiu convencer seus parceiros no G-8, fórum das maiores economias do mundo, que fala muito, sempre sem entusiasmo algum, a suspender, para não dizer "expulsar", a Rússia - para castigar Putin pela transgressão na Ucrânia-Crimeia. O mais provável, porém, é que tenham concordado em fazer esse gesto, quase só simbólico, para evitar assinar sanções ainda mais duras contra Moscou. Ao convir nessa falcatrua orquestrada pelos EUA, o G-7 remanescente só faz expor sua característica de club privé, criado para, arrogantemente, fazer dos BRICS, excluídos.

O declínio do Império Americano, como de todos os impérios, promete ser ao mesmo tempo gradual e relativo. Quanto às causas desse declínio, são inextrincavelmente externas/domésticas e externas/estrangeiras. Não há como separar o refratário déficit no orçamento e seu complemento, o dissenso social e político, do irreduzível orçamento militar indispensável para derrubar impérios rivais. Claro que na operação de emprestar a expressão inspirada e conceitualmente densa, de Chalmers Johnson, o "império de bases", para dar nome a bem mais de 600 bases em provavelmente mais de 100 países, em vez de tombar, da noite para o dia, da onipotência na impotência, inclui-se o risco de tudo se tornar cada vez mais errático e intermitentemente violento, na "defesa" da já para sempre esvaziada "nação" excepcional.

Até aqui, ainda não se vê ainda nem sinal de que cogitem desistir da pretensão de permanecer primeira entre aspirantes a iguais nos mares, ares, ciberespaços e na cibervigilância. E o peso do músculo militar para essa super-auto-re-atribuição é garantido por uma pujante indústria da "defesa", numa economia assolada por desemprego profundamente enraizado e uma sociedade saqueada por renda e desigualdade humilhantes, por pobreza crescente, pela anomia sociocultural incapacitante e por avassaladora, sistêmica corrupção política. Inobstante o que digam os Sabe-nada imperiais, essas condições sempre solaparão o apoio doméstico a política externa de intervencionismo e militarismo não reconstruído. Também esterilizarão o poder soft dos EUA, porque corroem a aura da democrática, salvífica,City on the Hill.[4]

Assim como a União Soviética e o comunismo foram o arqui-inimigo polimórfico durante a Primeira Era Nuclear, o terrorismo e a 'ameaça' islamista podem bem fazer o mesmo papel, na Segunda Era Nuclear. Talvez pareça que a ameaça e o uso de armas nucleares soem hoje menos úteis, embora em nada menos demoníacos, que antes.  Sub specie aeternitatis [do ponto de vista da eternidade], o horror do ataque terrorista contra o World Trade Center em New York e contra a Maratona em Boston foram bagatela, comparado à fúria do bombardeio nuclear contra Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945.  Claro que é recomendável que muitas nações cuidem de impedir o "terrorismo nuclear" servindo-se para isso da Cúpula de Segurança Nuclear.

Mas, como não há sistemas seguros de acesso ao controle, a missão está condenada a morrer no ninho, se não houver, simultaneamente, movimento decidido para reduzir radicalmente, ou para liquidar, o apavorante arsenal de armas nucleares e de materiais para produzir armas nucleares. Afinal, quanto maior o estoque, maiores a oportunidade e a tentação para um terrorista, um criminoso ou um vazador, atravessar o Rubicão.

Segundo estimativas bem informadas, há hoje bem mais de 20 mil bombas atômicas nesse planeta; EUA e Rússia guardam mais de 90% desse total. Não menos formidáveis são os estoques globais de urânio e plutônio enriquecidos.

Em setembro de 2009,  Obama disse ao Conselho de Segurança da ONU             que "novas estratégias e novas abordagens" eram necessárias para enfrentar uma "proliferação" de "alcance e complexidades" sem precedentes, de tal modo que se "apenas uma arma atômica explodir numa cidade - seja New York ou Moscou, Tóquio ou Pequim, Londres ou Paris - poderia matar centenas de milhares de pessoas." Na sequência, mais de um analista confessou que considera um ataque atômico doméstico, organizado e executado dentro dos EUA, com uma dessas impensáveis bombas sujas, uma ameaça maior e mais iminente, que algum prosaico ataque nuclear movido pelos russos. Tudo isso, enquanto a Cúpula de Segurança Nuclear escreve na água, e o Pentágono continua a "modernizar" o arsenal e as capacidades nucleares dos EUA - também com armas químicas, já, preparadas.  Corta-se o orçamento para capacidades militares convencionais, não para as capacidades nucleares.

Fato é que, com tudo isso na cabeça, a super-reação dos EUA contra o movimento dos russos na Crimeia é muito preocupante. Desde o início, o governo Obama proclamou temerariamente e exageradamente supostos objetivos e métodos de Moscou - de Putin -, ao mesmo tempo em que proclamava a absoluta inocência de Washington no imbróglio em curso.

Praticamente do dia para a noite, antes até da superexplorada acusação de que Moscou estaria reunindo tropas na fronteira da Ucrânia e, em geral, em toda a parte europeia da Rússia, "vizinhos próximos" da OTAN - leia-se Washington - puseram-se a deslocar equipamento militar avançado para os países do Báltico e Polônia.

Dia 4/4/2014, os ministros de Relações Exteriores dos 28 países membros da OTAN reuniram-se em Bruxelas, com o objetivo de reforçar o músculo militar e de cooperação, não só nos países já citados, mas também na Moldávia, Romênia, Armênia e Azerbaijão. Além disso, as patrulhas aéreas da OTAN serão escaladas, e baterias antimísseis serão instaladas na Polônia e na Romênia. Aparentemente, a reunião de emergência da OTAN também considerou exercícios militares conjuntos em vasta escala e o estabelecimento de bases militares da OTAN próximas às fronteiras da Rússia, as quais, segundo oFigaro, jornal conservador francês, seriam "demonstração de força que os próprios Aliados vedaram nos anos posteriores ao colapso da União Soviética." Será que armas nucleares táticas e aviação com capacidade nuclear - ou drones com capacidade nuclear - serão deslocadas para essas bases?

E para qual finalidade? Preparando uma guerra convencional de trincheiras, guerra de blindados, ou guerra total do tipo Operação Barbarossa? Claro, em tempos pós- Hiroshima e Nagasaki, deve haver um plano de contingência, um Plano B para duelo nuclear, com os dois lados, no caso da 'contenção' recíproca falhar, confiantes em suas capacidades para primeiro e segundo ataque. Não só Washington, mas também Moscou, sabem que em 1945 a razão decisiva para usar a arma absoluta foi claramente geopolítica, muito mais que apenas militar.

Com o peso dos imperialistas não regenerados na Casa Branca, no Pentágono, no Congresso, mais a "terceira Casa legislativa" e os think tanks, há risco de que essa "operação liberdade dos 'vizinhos próximos' da Rússia europeia" pela OTAN-cerebrada pelos EUA fuja completamente de controle, dentre outros motivos porque os Sabe-nada norte-americanos com certeza têm contrapartes russos.

Nesse jogo de corre-corre à beira do penhasco nuclear, os EUA não se podem apresentar como reserva moral e legal, porque foi o presidente Truman e seu círculo de conselheiros que iniciaram a maldição da guerra atômica e, nem com o tempo, jamais se viu gesto nem oficial nem popular de arrependimento por esse excesso militar imperdoável. E, isso, apesar de o general Eisenhower já ter dito que "desencadear o inferno atômico contra população predominantemente civil é simplesmente o seguinte: ato de supremoterrorismo (itálicos meus) (...) e de barbárie cruel e impiedosamente calculado pelos planejadores norte-americanos, para demonstrar o poder demoníaco de seu próprio país, ao resto do mundo - e à União Soviética em particular". Haveria filiação entre esse clamor da alma e o alerta sobre a toxicidade do "complexo industrial-militar" do discurso de despedida do presidente Eisenhower?

É tempo de se fazer um debate nacional - e um referendo a ser iniciado pelos cidadãos norte-americanos - sobre se, sim ou não, os EUA devem empreender imediatamente o autodesarmamento nuclear unilateral. Pode ser exercício salutar e exemplar, em democracia participativa. *****


[1] Sobre o filme para televisão, com esse título, ver http://www.imdb.com/title/tt0247232/ [NTs]
[2] Esse "impasse" já não existe: a Crimeia já se reincorporou à Federação Russa e a "Ucrânia é ficção", como se aprende do Saker. O ensaio pode ter sido escrito antes desses desdobramentos e, seja como for, nada perde por essa imprecisão [NTs]
[3] Orig. "new-caught, sullen peoples, half-devil and half-child"; é verso do poema "O Fardo do Homem Branco", de Rudyard Kipling (1899) (ing. emhttp://www.poetryloverspage.com/poets/kipling/white_mans_burden.html; port. emhttp://pt.wikisource.org/wiki/O_fardo_do_Homem_Branco) [NTs].
[4] É expressão que aparece na Bíblia, no Sermão da Montanha; retomada no discurso dos colonizadores puritanos nos EUA e, daí, incorporada ao discurso político nos EUA, para designar os EUA: cidade no alto da colina, a mais visível, a que se vê de longe, a mais brilhante, etc. Há aí também um deslizamento semântico com "The Hill", expressão que designa a colina do Capitólio, em Washington [NTs].

domingo, 20 de abril de 2014

EUA se sente só eles poderia se intrometer na Ucrânia - especialista

EUA se sente só poderia se intrometer na Ucrânia - especialista

Fyodor Lukyanov, chefe do Conselho de Política Externa e de Defesa e editor-chefe da revista "A Rússia nos assuntos globais", deu a sua opinião sobre os acordos feitos durante a recente reunião de quatro vias, em Genebra, na Ucrânia, bem como sobre o envolvimento dos EUA na crise ucraniana.

Isso foi uma surpresa para você que os lados chegaram a um acordo e até assinou algum documento lá em Genebra?
Eu era cético, muito cético antes que não por causa do que disse Sergey sobre esta operação antiterrorista anormal, que na verdade era uma farsa e que não era nada grave e em vez disso, demonstrou que o governo ucraniano é realmente absolutamente incapaz de fazer qualquer coisa, mas o atmosfera entre a Rússia e os EUA foi principalmente realmente horrível. E parecia que a chance de que os países ou ministros se reunirá, dizer palavras muito desagradáveis ​​para o outro e, em seguida, sair da sala foi muito alto. Eu acho que o que conseguimos depois de Genebra, porque é longe do fim é que a Rússia e os EUA demonstraram ser, na verdade, de confronto, mas pronto para fazer certas concessões, a fim de não agravar a situação. Eu diria que o que foi assinado lá ou adotado não é o plano, é um protótipo de um plano e há muitas questões difíceis embutido, por exemplo, a demanda para desarmar todas as unidades não-militares, de fato, pode se tornar um grande problema porque Kiev vai interpretá-lo de uma forma que aqueles no leste da Ucrânia deve ser desarmado, não a chamada guarda nacional que é de fato um monte de bandidos. Então, eu acho que estamos apenas no início de um processo muito longo, que pode falhar a qualquer momento.
Ocidente está sempre acusando a Rússia de interferir nos assuntos internos de outros países.Ao mesmo tempo, autoridades ocidentais visitar abertamente Ucrânia e demonstrar o seu apoio a este ou aquele tipo de forças. Como você acha que eles justificam que e como eles explicam que, se não interferir com os assuntos internos de outros Estados?
Porque eles têm especialmente em os EUA um conjunto muito interessante de mente acreditando que interferir nos assuntos internos de outros países podem ocorrer apenas no caso de ser contra os interesses norte-americanos. Se ele é a favor dos interesses americanos, não está interferindo, é promover a democracia, os direitos humanos e assim por diante. E por incrível que pareça, é uma crença profunda em muitas cabeças por aí, incluindo talvez chefe da CIA que visitou Kiev.
Você acha que isso foi uma coincidência mística que ele chegou a Kiev em um ponto tão crucial quando autoridades ucranianas pontapé inicial, que a chamada operação antiterrorista no leste da Ucrânia? Você não acha que esses são eventos totalmente independentes?
Esses eventos são naturalmente relacionados, mas talvez de uma forma diferente do que acreditamos. Não era o caso de que o Sr. Brennan deu ordem a eles "vamos para Donetsk e esmagar as pessoas." Eu diria que poderia ser o contrário, porque o meu entendimento, eu concluiria vez que Brennan veio a Kiev só para entender se essas autoridades são reais, se eles são capazes de fazer qualquer coisa, porque é claro para os americanos o maior medo é que a Ucrânia vai simplesmente deixará de existir na forma atual e que será visto como uma enorme derrota de os EUA e grande vitória para a Rússia. E, claro, eles querem impedi-lo, e eles queriam entender se este governo pode ser invocado e para o governo foi uma oportunidade para demonstrar que eles são resistentes e eles são capazes de fazer, mas parece que eles falharam.
Read more: http://voiceofrussia.com/news/2014_04_20/US-feels-only-they-could-meddle-in-Ukraine-expert-4255/

Ucrânia e o grande tabuleiro de xadrez.

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O Departamento de Estado dos EUA, pela porta-voz Jennifer Psaki, disse que notícias de que o diretor da CIA John Brennan teria dito aos mudadores-de-regimes em Kiev que "conduzissem operações táticas" - ou alguma "ofensiva antiterrorista" - no leste da Ucrânia são "completamente falsas". Significa que as notícias são verdadeiras. Brennan já transmitiu a ordem de marcha. No momento em que escrevo, a campanha "antiterroristas" - com seu simpático toquinho de retórica à Dábliu - já degenerou em farsa.

Agora, combinem essa notícia com o secretário-geral da OTAN, o cão-de-caça Retriever holandês Anders Fogh Rasmussen, a latir sobre o reforço militar ao longo da fronteira leste da OTAN: "Teremos mais aviões no ar, mais navios na água e mais prontidão em terra."

Aí está. Bem-vindos à doutrina da guerra pós-moderna dos Dois Patetas.

Paguem ou morram congelados

Para todos os propósitos práticos, a Ucrânia está falida. A consistente posição do Kremlin ao longo dos três últimos meses foi encorajar a União Europeia a encontrar solução para a terrível situação econômica da Ucrânia. Bruxelas fez coisa nenhuma; apostou tudo na 'mudança de regime' que beneficiaria o fantoche-campeão-de-boxe & preferido da Alemanha Vladimir Klitschko, também conhecido como "Klitsch, o boxer".

A mudança-de-regime aconteceu, mas do tipo orquestrado pelo Khaganato dos Nulands - uma célula neoconservadora dentro do Departamento de Estado e sua secretária-assistente de Estado para Assuntos Europeus e Asiáticos Victoria Nulands. E agora a opção presidencial é entre - e como não seria? - dois fantoches dos EUA, o fantoche-bilionário-do-chocolate Petro Poroshenko e a 'ex-primeira-ministra da Ucrânia, ex-condenada e possível presidente, 'Santa Yulia' Timoshenko. E a União Europeia ficou com a conta a pagar (impagável). É onde entra o Fundo Monetário Internacional, FMI - com um iminente, repugnante "ajuste estrutural" que mandará os ucranianos direto ao inferno, para buraco ainda mais infernal do que o que já conhecem e com o qual estão habituados.

Mais uma vez, contra toda a histeria propagada pelo 'Ministério da Verdade' dos EUA e seus franqueados na imprensa-empresa ocidental, o Kremlin não precisa "invadir" Ucrânia alguma. Se a Gazprom não receber o que lhe é devido, os russos só terão de fechar a torneira do braço ucraniano do Gasodutosão. Kiev será forçada a usar pelo menos uma parte do gás destinado a alguns países da União Europeia, ou os próprios ucranianos ficarão sem combustível para manterem-se vivos - as pessoas e as indústrias. E a União Europeia - cuja "política de energia" é, sobretudo, uma piada - lá estará, enredada em mais uma dificuldade autoinfligida.

A União Europeia continuará a caminhar a passos largos para situação perene de perde-perde, se Bruxelas não falar com Moscou, com seriedade. Só há uma explicação para por que já não está falando: pressão linha-dura-duríssima por Washington, montada mediante a OTAN.

Mais uma vez, como contragolpe, contra a atual histeria - a União Europeia ainda é cliente top da Gazprom, com 61% do total do gás exportado. É uma relação complexa, baseada na interdependência. A capitalização do Ramo Norte, do Ramo Azul e do ainda a ser completado Ramo Sul inclui companhias alemãs, holandesas, francesas e italianas.

Assim sendo, sim, a Gazprom precisa do mercado da União Europeia. Mas só até certo ponto, se se considera o meganegócio de entrega de gás siberiano à China, que será assinado muito provavelmente em maio, em Pequim,[1] quando o presidente da Rússia visitará o presidente Xi Jinping.

Jogando areia na engrenagem[2]

Mês passado, enquanto o torturante sub-show estava em andamento na Ucrânia, o presidente Xi andava pela Europa fechando negócios e promovendo outro braço da Nova Rota da Seda, direto até a Alemanha.

Em ambiente não Hobbesiano e não doente, uma Ucrânia neutra só teria a ganhar se se posicionasse como um entroncamento privilegiado entre a União Europeia e a proposta União Eurasiana - além de se converter em nó crucial de distribuição na ofensiva chinesa da Nova Rota da Seda. Em vez disso, os mudadores-de-regime do governo de Kiev estão apostando tudo na 'associação' à União Europeia (que jamais acontecerá) e deixando-se converter em base avançada para a OTAN (que é o objetivo do Pentágono).

Se se pensa num mercado comum de Lisboa a Vladivostok - ao qual visam ambas, Moscou e Pequim -, ele seria também magnífica solução para a União Europeia.

Nesse contexto de possibilidades, o desastre na Ucrânia é realmente um pau, uma trava metida na roda, um saco de areia jogado na engrenagem, uma cratera rasgada no meio da estrada. E areia na engrenagem, trava na roda, cratera cavada no meio da estrada que, crucialmente, só geram vantagem para um único ator: o governo dos EUA.

O governo Obama já pode - pode, talvez; ninguém garante - ter percebido que o governo dos EUA perdeu a batalha pelo controle do Oleogasodutostão da Ásia para a Europa, apesar de todos os esforços do regime de Dick Cheney. O que os especialistas em energia chamam de "Grade Asiática de Segurança Energética" está crescendo - como seus milhares de conexões para a Europa.

Assim, só restou ao governo de Obama jogar areia na engrenagem, meter uma trava, um calço, na roda desse processo - o que se vê ser feito agora -, tentando ainda impedir a plena integração econômica da Eurásia.

Pode-se facilmente ver que o governo Obama está cada vez mais obcecadamente preocupado com a crescente dependência da União Europeia, que não vive sem o gás russo. Daí se inventou o plano grandioso de posicionar o gás de xisto norte-americano na União Europeia, como alternativa à Gazprom. Ainda que se assuma que possa acontecer, demorará pelo menos uma década - sem garantia de sucesso. Na verdade, a alternativa real seria o gás iraniano - depois de um acordo nuclear amplo e o fim das sanções ocidentais (esse pacote, o que não surpreende ninguém, está sendo sabotado em massa por diferentes facções ativas dentro do governo dos EUA).

Para começar, os EUA não podem exportar gás de xisto para países com os quais não tenha assinado algum acordo de livre comércio. É "problema" que poderia ser solucionado, em boa parte, pelo acordo chamado "Parceria Trans-Atlântica" [orig. Trans-Atlantic Partnership (TAP)] negociado secretamente entre Washington e Bruxelas (sobre isso, ver 16/4/2014, Pepe Escobar, "Pé na estrada pelo sul do OTANstão",Asia Times Online, trad. em http://goo.gl/r2AEjL [NTs]).

Em paralelo, o governo Obama continua a usar táticas de "dividir para governar", com o objetivo de assustar atores menores, inventando o fantasma de uma China maléfica, militarista, tentando reforçar o "pivô para a Ásia" que só engatinha e não consegue pôr-se em pé. Todo o jogo volta sempre ao que o Dr. Zbig Brzezinski conceitualizou nos idos de 1997, em seu The Grand Chessboard - e cantou, até os mínimos detalhes, para seu discípulo Obama: os EUA no comando de toda a Eurásia.

Mas o Kremlin não se deixará arrastar para um sorvedouro militar. É justo dizer que Putin identificou o Grande Quadro no tabuleiro inteiro, o que significa ampliar a parceria estratégica Rússia-China, que é tão crucial quanto a sinergia energia-manufatura com a Europa; e, sobretudo, o medo avassalador que sentem as elites financeiras norte-americanas, do processo inevitável, em andamento, conduzido pelos BRICS (e que já se expande para o Grupo dos 20, G-20, grupo chave) - para deixar para trás o petrodólar.

Em resumo, tudo isso sugere que o petrodólar será progressivamente superado, ao mesmo tempo em que ascende uma cesta de moedas como moeda de reserva no sistema internacional. Os BRICS já trabalham na construção de sua alternativa ao FMI e ao Banco Mundial, investindo num pool de moedas de reserva e no Banco BRICS de desenvolvimento.

Enquanto o esforço tentativo de construir uma nova ordem mundial agita-se tentando nascer em todos os pontos do Sul Global, a OTAN-Robocop sonha com mais guerras. **********
[2] Orig. Spanner in the Works. A expressão pode ser traduzida, por aproximação, por "areia (jogada) na engrenagem"/"um pau metido na roda". Resgatamos um pouco desse significado em "o desastre na Ucrânia é realmente um pau, uma trava metida numa engrenagem", mesmo sabendo que nessa tradução perde-se um traço de "ação grotescamente ridícula". A expressão dá nome também a uma equipe de comediantes ingleses que oferecem kits de comédias-eventos que se 'misturam' a eventos reais, causando grande confusão (pressupõe-se que a confusão que eles criam divirtam os convidados). O modo como trabalham misturados a garçons de uma festa está bem descrito em http://www.scottjordan.co.uk/acts/comedy-waiters.html. Emhttp://www.spanner.co.uk/spoof-security/ há boa exposição de como trabalham, por exemplo, misturados aos seguranças que revistam convidados que chegam para um evento). Contatos:http://www.spanner.co.uk/contact/. Aqui fica a anotação, para resgatar um pouco do traço de 'palhaçada' [no sentido pejorativo] da mesma expressão [NTs].
17/4/2014, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://atimes.com/atimes/Central_Asia/CEN-01-170414.html

As Forças Do Mal : Os 10 maiores inimigos da Rússia e da Humanidade.

Os 10 maiores inimigos da Rússia. 20170.jpeg
A votação na Assembleia Geral da ONU sobre a legitimidade do referendo na Crimeia deixou claramente evidentes os amigos e inimigos da posição russa. Primeiramente vamos analisar o grupo dos maiores russófobos que desde já muito tem tentado falar com a Rússia a partir de uma posição de força ou juntam -se ao coro deles.

Em 27 de março dos 193 países membros da ONU,100 votaram a favor da resolução, os outros 93 votaram contra, abstiveram-se ou não votaram. Referendo na Criméia no documento referido avalia-se como " não vinculativo ", enquanto a resolução pede aos países para não reconhecerem a "anexação" da Criméia para a Rússia.

Os elaboradores da resolução foram: Alemanha, Canadá, Costa Rica, Lituânia, Polónia e Ucrânia. Em seguida, pediram coautoria: Austrália, Áustria, Bélgica, Croácia, República Checa, Dinamarca, Estónia, França, Geórgia, Suécia, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos , Islândia, Itália , Japão, Noruega . Pela primeira vista surpreende como é que entre os iniciadores se encontra a Costa Rica, especialmente porque passados três dias, o governo da Costa Rica aboliu os vistos para os russos a entrarem no país como turistas. O facto mais uma vez mostra que força de "persuasão " têm os EUA sobre os governos "soberanos", especialmente no Caribe. Portanto, retiremos a Costa Rica do grupo de inimigos.

Governo alemão, dirigido pelo chanceler Angela Merkel (nasceu e viveu na República Democrática Alemã), sempre foi racional, pragmático e grato à Rússia por Alemanha ter reunificada na época de Mikhail Gorbachev. Aliás, esta reunificação alemã foi feita sem sanções , ameaças , com fortes intenções por parte russa a aderir à UE e até à NATO e " democratizar " o país segundo os normas ocidentais. Merkel como uma política experiente não podia estar inconsciente quanto à escalada do conflito na Ucrânia, no entanto seguiu este caminho. As declarações contraditórias dela a favor das sanções e em seguida contra, demonstram a chanceler não ser independente na tomada de decisões. Depende dos sinais enviados do outro lado do Oceano.

Merquel preferiu não participar de forma evidente da Parceria Orienta, engoliu os insultos em forma de escutas telefónicas do seu celular e declarações obscenas da secretária de Estado adjunta dos Estados Unidos, Victória Nuland. É incrível como é que o Ocidente persiste na opinião de a Rússia ficar uma "potência regional ", fraca e derrotada na Guerra Fria. Até os alemães permanecem contaminados por etal propaganda. "A Rússia não é um país rico, e daqui a dois ou três anos vai ficar derrotada pelas sanções ", - disse a ministra da Defesa alemã Ursula von der Leyen.

Dois outros iniciadores da resolução - a Lituânia e a Polónia . Seus governos são histericamente anti-russos sem possibilidade para dar a outra característica. Polónia iniciou a Parceria Oriental com o objetivo de envolvimento da Ucrânia na órbita de seus interesses. O fato é que os poloneses e a Uniate igrejas desde o século 15 têm implantado o ódio contra os russos e ortodoxos nas regiões ocidentais da Ucrânia. É por isso que hoje temos o que temos - poder fascista dos seguidores de Stepan Bandera ( pró-nazi ucraniano, indómito e irremediavelmente anti-semita e anti-russo) em Kiev.

Em 1989 na nova Constituição polonesa foi escrita a definição do Estado como a Terceira Rech Paspalitaya (uma união do reino polonês e o Grão-Ducado da Lituânia, formada em 1569 e liquidada em 1795, ficando dividida entre a Rússia , Prússia e Áustria ). No contexto do passado isso significa que os territórios da Ucrânia, Bielorrússia e Lituânia mais uma vez começaram a ser percebidos na Polônia como a parte do mundo polonês. Têm aguardado hora a entrarem no jogo e organizarem a Quarta Rech Paspalitaya. Portanto, com esse objetivo tornaram-se um "cavalo de Tróia " dos Estados Unidos da Europa.

Detestando todo russo os líderes do governo da Polônia comportam-se inadequadamente. Por exemplo, permitiram a remoção do monumento para o general russo Ivan Chernyakovskiy na cidade de Pieniezno , a ex-cidade alemã Melzak que a Polónia tinha recebido após a Segunda Guerra Mundial devido aos acordos de Yalta e a boa vontade da URSS. Lembremo-nos também dos nacionalistas poloneses que com a conivência das autoridades locais invadiram a embaixada russa em Varsóvia, bem como a histeria desnecessária promulgada ao redor do acidente de avião presidencial perto de Smolensk . O primeiro-ministro Donald Tusk disse na última cimeira da NATO que a Polónia deve colocar duas brigadas pesadas da Aliança de 5000 intgrantes cada uma para proteger habitantes contra a agressão da Rússia . A Polónia faz parte do sistema de defesa de mísseis dos EUA na Europa, ou seja vai envolvendo em toda a campanha anti-russa do Ocidente.

A Lituânia foi a primeira a reconhecer o governo ilegítimo da Ucrânia. Há provas documentais que os militantes de Maidan estavam preparando na Polónia e na Lituânia. Lituânia organizou reunião informal do Conselho de Segurança com os membros da minoria tártara da Criméia ( a China e a Ruanda não participaram) que a Rússia chamou de "inapropriado" , uma nova tentativa internacional para distrair a atenção "da grave situação na Ucrânia". A presidente da Lituânia Dalia Grybauskaite tem pronunciado os discursos com slogans russófobos . Em uma entrevista sobre "O Direito de Saber "da televisão LRT disse que algumas das ambições do presidente russo, Vladimir Putin podem ser consideradas como " insalubres " , e a Rússia se tornou "um país imprevisível. "

Refiramo-nos agora para o Canadá e a lista dos co-autores. É o lugar onde se encontram os principais inimigos da Rússia. São anglo-saxões - os EUA , Austrália , Reino Unido. Estes países formam a cabeça da Comunidade Britânica da qual 52 países votaram segundo lhes tinha sido dito. Os anglo-saxões gostam de fazer guerra usando como bucha de canhão os outros, recordemo-nos da Costa Rica. Com este mundo anglo-saxão é impossível fazer uma amizade ou acordo , como se trata de um profundo confronto civilizacional e religioso.

No entanto , até Vladimir Putin tentou fazê-lo. Ele fechou as bases militares russas em Camranh ( Vietnam) e Lourdes (Cuba) , apoiou os Estados Unidos no Afeganistão e após o ataque terrorista em Nova York em 11 de setembro contra a luta deles contra Al-Qaeda. Mas todos seus esforços foram, eventualmente, frustradas pela política do Ocidente por agir exclusivamente a partir de uma posição de força , aplicando padrões duplos.

Estados Unidos têm desenvolvido e implementado um novo plano da "revolução laranja" na Ucrânia. Para isso, segundo Victoria Nuland , tinha sido gasto US $ 5 bilhões. E o objetivo principal não é a Ucrânia, mas é a Rússia, a sua desestabilização e colapso. Barack Obama fez uma declaração , após a qual aparecem as dúvidas quanto a sua conformidade ao serviço. Ele caracterizou o único país capaz de destruir os Estados Unidos na guerra nuclear como um "país regional " e lamentou o fato de que " os ideais ocidentais foram desafiados com a autodeterminação da Crimeia" . Isso apesar do fato que Washington tem 300 bases militares nas proximidades da fronteira com a Rússia.

A posição de Stephen Harper o primeiro-ministro do Canadá, seguindo os passos da política dos EUA é compreensível, mas por que tanta raiva? Na televisão canadense furioso Harper acusou Putin de revanchismo e pediu para parar o presidente russo a qualquer custo. "O comportamento do Canadá sobre a questão da Ucrânia , é devido ao fato de que lá há uma presença séria da emigração ucraniana , e geralmente da Ucrânia ocidental ( os descendentes dos militantes de Bandera-Red.) e esta comunidade russófoba está funcionando . O Canadá também está tentando marcar pontos políticos , com a oportunidade de aparecer no papel de um importante jogador global que possa decidir o destino de tal gigante como é a Rússia " , - disse ao Pravda .Ru o doutor em Filosofia Leonid Polyakov , o chefe do Departamento da Ciência Política da Escola Superiur da Economia.

Não fica muito atrás dos amigos anglo-saxões e o primeiro-ministro britânico David Cameron. Também depende do "big brother" americano . A retórica de Cameron é marcante em sua avaliação inadequada das realidades: "É inaceitável usar a força para mudar as fronteiras russas baseando no falso(!) referendo realizado sob a mão armada(!) russa. Que o Presidente Putin não duvide(!) a Rússia receber consequências mais graves " - disse Cameron. Enquanto isso, o próprio premié britânico tem relacionamento muito difícil com a Escócia. Escoceses não insistiriam na autodeterminação , se se tivessem dado bem com David Cameron.

Quanto à Austrália , então por que ela de repente se perguntou sobre a participação da Rússia nas reuniões do G20 , onde atualmente está fazendo a presidência ? Onde perdeu a sua soberania , o Sr. primeiro ministro Tony Abbott ?


Analisando a lista de patrocinadores da resolução , pode-se entender por que nela se encontram República Checa, Dinamarca , Estónia, França, Geórgia , Suécia, Bélgica eoutros. Em alguns casos há problemas nas relações com a Rússia ou conotações negativas históricas ( República Checa, Geórgia , Estónia ) , outros ' problemas de separatismo ( Bélgica , a Dinamarca, França ) . Mas, por que a lista inclui a Croácia, Turquia e Suécia ?

A Suécia é o coparceiro da Polônia na Parceria Oriental , o seu ministro das Relações Exteriores , Carl Bildt, especializa-se em declarações anti- russas. Até os mesmos suecos sofrem com o implacável russófobo . "Nós temos que nos perguntar , onde é que cometemos um erro, está reinando um tipo de cansaço sobre a expansão infinita da EU. Muitos europeus já não querem fornecer aos países da Parceria Oriental o direito de se tornarem os membros da UE , em parte, isso temos devido às mentiras e falhas de Carl Bildt " - disse o deputado parlamentar social-democrata sueco Urban Christian Ahlin. As pessoas como Bild estão sendo buscados pelo Departamento dos EUA por anos e ficam apreciados por Washington.

A Croácia está reconsiderando sua origem eslava. Portanto, distanciamento da Rússia, de todo o leste, todo o não- europeu é muito característico para a Croácia depois dos anos 1990 , disse ao Pravda . Ru Elena Guskova , a diretora Instituto de Estudos Eslavos, da Academia Russa de Ciências. "Este Estado não tem história , seus interesses estão determinados, acima de tudo, pelos os interesses da UE e da NATO , é por isso que demonstra tais sentimentos subservientes . É daqueles países que sempre vão jogar juntos , sempre vão concordar. E da Rússia os governos deste tipo só vão se lembrar e pedir ajuda quando aparecer uma ameaça e necessidade de fazer alguma ação junta " - disse Elena Guskova.

E, finalmente, o décimo inimigo - a Turquia ( o membro da NATO ) . A Turquia é o primeiro número de jogar segundo a conjuntura da situação . " Os turcos estão vinculados à trama com a comunidade tártara da Criméia , e o comportamento dos seus líderes comunitários fazem levantar suspeitas de estarem encabeçados pelo governo turco. A Turquia está minando a situação na Crimea por dentro, pelo menos , está criando problemas deste sentido. Os turcos estão incluídos no contexto geral da condenação, mas acho que é um jogo independente , eles não estão envolvidos no concerto pan-europeia russófobo. Têm os seus interesses particulares , não descarto que em algum momento vão simplesmente mudar de posição ", - disse Pravda. Ru Leonid Polyakov .

A situação moderna da Rússia não pode ser considerada próxima do ideal , mas tem um potencial de desenvolvimento histórico que irrita o Ocidente , forçando cada vez mais considerar os interesses da Rússia o que categoricamente não quer, e não pode. Precisamos entender que o Ocidente nega à Rússia o direito da existência soberana e reeducá-lo impossível , só precisa fazer todo o possível para ter os amigos no número maior do que os inimigos.
Lyuba Lulko

As Forças Do Bem : Os 10 amigos acreditam na Rússia.

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Dos 193 países que votaram a proposta de resolução da Assembleia Geral da ONU condenando as ações da Rússia na Crimeia, 100 delegações votaram a favor da resolução, 93 abstiveram-se ou não votaram. Com uma pressão sem precedentes através dos seus recursos administrativos o Ocidente aprovou a resolução com uma margem de apenas de oito votos. A votação mostra claramente a posição do mundo em relação à Rússia, o grau de soberania dos países e divide- os em dois campos. O campo dos opositores o Pravda. Ru já tinha analisado. Agora falemos dos amigos.

Referêndum da Criméa no documento referido caracteriza-se de " não vinculativo " e insiste para os países não reconhecerem a "anexação" da Crimeia pela Rússia. Mas a essência principal da resolução é rejeitar para o povo da Crimeia o direito de auto-determinação garantida pelo artigo 1 º da Carta das Nações Unidas. No entanto, o documento é puramente consultivo. Votaram contra a resolução, além da Rússia, a Bielorrússia, Bolívia, Zimbábue, Sudão, Síria, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte, Nicarágua, Armênia. Cinquenta e oito delegações se abstiveram. Mais de 20 se recusaram a votar. Por exemplo, Irã, Israel, Sérvia, Quirguistão, Tajiquistão, Emirados Árabes Unidos. São principalmente aqueles que têm planos de especular sobre a conjuntura dos acontecimentos.

Havia exemplos de mudanças de posição a favor da Rússia. Assim, a Argentina e a Ruanda, como os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, poucos dias antes da votação na Assembleia, no Conselho de Segurança votaram " pro" a resolução condenando a Rússia (dos 15 membros do Conselho de Segurança, apenas a China se absteve, e a Federação da Rússia vetou o projeto), mas na Assembleia abstiveram-se. A propósito, na Argentina, esta posição foi considerada como " apoio indireto para Putin". E o Israel que não votou foi condenado pelos EUA de traição das relações de aliados. É a resposta para aqueles que chamam a adesão dos países que não votaram ou abstiveram-se ao campo dos amigos de " aritmética de propaganda ".

A análise geral levanta algumas questões. Por que se absteve o Cazaquistão? Afinal, a Ucrânia entregou uma nota ao Cazaquistão por causa da posição dele sobre o referendo na Crimeia. O presidente Nursultan Nasarbayev disse que " está consciente" quanto à posição da Rússia. Não votou contra a resolução o Uzbequistão (absteve-se), Tajiquistão, Quirguistão (decidiram não participar da votação). Ter-lhes-ia parecida a pouca a ajuda russa? Provavelmente era muita. América nessa situação já tirava conclusões.

Quanto aos países que apoiaram a Rússia diretamente, é evidente, que a sua referência aos "amigos" é condicional, uma vez que não são tanto amigos russos como os inimigos do Ocidente, por o seu modelo de democracia a não ser percebido por ele.

No entanto, existem verdadeiros aliados da Rússia, muitos dos quais o governo russo subestima. Mas, em geral, estes dez países na escala de civilização asseguram a dialética do desenvolvimento mundial necessária para qualquer fenômeno universal. Esta tendência é representada por fé em Deus, apoio à força própria, defesa dos valores tradicionais e está começando a pegar o mundo unipolar criado pelos EUA.

Assim, o primeiro amigo, a Belarus. Sobretudo é estranho ver Alexander Lukashenko entre os amigos, como tem se distanciado de cada possível aprovação direta das ações da Rússia. O presidente da Belarus não reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, não chegou a Kiev para celebrar o 1025 º aniversário do Batismo da Rússia, juntou-se à Parceria Oriental (com objetivos desconhecidos), envolveu-se no conflito com a Rússia no caso de Uralcali (empresa russa dos fertilizantes de potassas) transformando — o num processo político. E sobre a questão da Crimeia manifestou-se bastante indeciso, reconheceu a reunificação da Rússia e Crimeia "de facto", ou seja, não legalmente.

Mas o seu conflito com o Ocidente é muito profundo. Está sendo caracterizado como um "ditador ", fazem — se previsões da rápida "revolução colorida" na Belarus. As notícias a partir da mídia ocidental tem transmitido notícias da oposição bielorrussa a provocar Maidan bielorusso.

Bolívia, Cuba, Venezuela, Nicarágua combinamos segundo a base de apoio. São os países da ALBA, uma aliança organizada por Hugo Chávez para fazer resistência ao imperialismo dos EUA. No entanto, é interessante que o integrante da mesma organização, o Equador, absteve-se. No entanto, os presidentes Evo Morales, Daniel Ortega e o falecido Hugo Chávez reconheceram a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, são os nossos verdadeiros aliados, sem referência à postura anti- americana.

Especialmente no caso de Ortega e Raul Castro, que sobreviveram a traição da Rússia na década de 1990. A posição de Cuba é um pouco mais vulnerável por o país estar em um bloqueio econômico do Ocidente e por agora não receber uma ajuda económica global da Rússia como era nos tempos soviéticos. Portanto, essa voz é particularmente valiosa, diz que apesar de tudo, os cubanos amam e apreciam a Rússia. A Venezuela liderada pelo presidente Nicolas Maduro agora está em crise semelhante a ucraniano.

Por que o Equador se absteve? Talvez, devido a Assange e Snowden que tinham pedido asilo no Equador passando por rigorosa chantagem econômica por parte dos EUA. Sanções iriam causar danos significativos para a sua economia orientada para o mercado dos EUA.

O Zimbabwe é um país liderado por um dos líderes do movimento de libertação nacional contra o apartheid, o camarada de Nelson Mandela, Robert Mugabe. Mas ao contrário de Mandela, presidente zimbabwiano não ficou ajoelhado perante o Ocidente em termos de manter a propriedade das empresas multinacionais anglo-saxões. Nacionalizou-os e opõe-se às implantações no país da tolerância em relação à homossexualidade. Por esta posição fica impiedosamente perseguido pelo Ocidente que lhe  impôs sanções econômicas. O Zimbabwe está em situação económica difícil, mas  não devido à " redistribuição negra ", mas à ação do FMI a negar a financiar a economia do país. Além disso, não está tão ruim como fica sendo descrita na mídia ocidental. Desde 2008, o país está saindo da crise , a expectativa de crescimento do PIB é de 6,4 por cento em 2014, em comparação com 3,4 por cento no ano passado.

A posição da Síria é evidente, o país experimentou propriamente como o Ocidente é capaz de liquidar um indesejado na luta pela influência geopolítica ou recursos naturais. Mas com a ajuda do presidente russo, Bashar al -Assad tem sobrevivido nos momentos mais difíceis e agora vai ganhando nos campos de batalha militar e diplomática. Presidente  Obama recentemente quebrou as relações diplomáticas com a Síria, mas isso não assustou os sírios que o mostram abertamente votando na ONU a favor da Rússia. Até que a Rússia vá manter relações amistosas com o Irã e a Síria, a sua posição no mercado europeu do gás não está em perigo, e todas as tentativas dos EUA para aumentar o fornecimento de gás à Europa serão inúteis, por não estarem rentáveis. O fato é que as condutas do Qatar (a única alternativa real para o gás russo à Europa) passam através do território da Síria.

O Sudão foi dividido em 2011 a favor e sob o comando dos Estados Unidos em duas partes: Sudão do Sul (rico em petróleo) e o próprio Sudão (parte do norte). Ninguém tem declarado, incluindo a Rússia, os resultados de um referendo realizado, de ilegítimos, embora o país, bem como a Ucrânia, após a divisão entrasse em guerra civil. "Bode expiatório" foi encontrado na pessoa do presidente Omar Bashir. Por exemplo, o Tribunal Penal Internacional de Haia emitiu já dois mandatos da sua prisão. É um país sancionado pelo Ocidente. A Rússia tem apelado à comunidade internacional para remover as sanções contra Sudão e prestar assistência financeira ao país, embora em termos de desenvolvimento económico, não seja vantajoso para governo russo. O preço do petróleo continua a ficar elevando por causa de conflitos a desenvolverem em países produtores de petróleo. Porém,  a Rússia entende que as sanções não é um instrumento da política produtiva. Um exemplo sé as sanções contra Cuba, que só fortaleceram Fidel Castro e os cubanos reunidos em torno dele. Além disso, a Rússia é guiada pela justiça, um termo que absolutamente não tem nenhum sentido no Ocidente.

A Coreia do Norte — o seu governo não é percebido na Rússia de amigável. Pelo contrário, a Rússia juntou-se  às sanções do Ocidente, e a seus esforços de transformar a imagem da RPDC para um Estado pária, embora,  enquanto tivesse sido vivo o campo socialista,  "a dinastia Kim" se encaixava bem no sistema global, não mostrando as tendências belicosas. Mas o sistema político da Correia do Norte é diferente do sistema ocidental de valores, não é um país derrotado por ele, e portanto é apresentado  como uma ditadura estúpida e imoral.


Ninguém informa que RPDC produz bons automóveis, tem própria indústria eletrônica e agricultura produtiva. As informações ocidentais muitas vezes são baseadas em certas informações recebidas a partir dos desertores depos localizados na Coréia do Sul. A credibilidade desses relatórios fica muito fraca, pois cada desertor está interessado em receber um favor das novas autoridades. O objetivo desta histeria é manter uma desculpa para continuar a manter, há mais de 60 anos, as forças armadas americanas implantadas ao longo das fronteiras russas e chinesas ou expandir na região um sistema de defesa antimísseis. Repare que tal "pária" os Estados Unidos têm em todas as regiões do mundo (analisando a lista de Amigos da Rússia).

E, finalmente, a Arménia, que é um concorrente para esse status no Cáucaso. País juntou à União Aduaneira, e seu apoio é muito importante no sentido de, finalmente, a Federação Russa adquir o aliado incondicional.  Apesar de ser vista uma analogia com o Nagorno-Karabakh não é óbvio para muitos governos. Por exemplo, a Sérvia que se absteve na votação sobre Crimeia na Assembleia Geral. Embora fora do país haja enclaves sérvios — na Bósnia e no Kosovo a desejar de se reunir com a Sérvia, isso dá pouca preocupação para o governo sérvio que é pró- ocidental.

No entanto, a Arménia fez a sua escolha, portanto é necessário dar-lhe todos os tipos de preferências na economia. "A integração com a Rússia para a Armênia tem valor civilizacional. Esses valores que nós, como um país a os progredir, temos que protegê-los ", — disse o deputado da Assembleia Nacional da Armênia do Partido Republicano no poder, Hayk Babukhanyan. O deputado acrescentou que a democracia no mundo deve estar desenvolvendo, e esses padrões duplos, que, infelizmente, cada vez ficam mais manifestantes, devem ser paradas.

Os Estados Unidos estão realizando uma operação na Ucrânia seguindo o roteiro das "revoluções coloridas" com o objetivo principal de completar a destruição do mundo ortodoxo e da Rússia como a sua base geral. Os americanos estavam confiantes de sucesso, por, segundo a sua opinião, a Rússia ter perdido a guerra fria, e não haver uma força para ter de volta a potência da URSS. Mas erraram nos cálculos. A Rússia não perdeu a guerra fria, mas recuou como depois da batalha de Borodino. Na batalha ideológica de catolicismo com protestantismo contra ortodoxia, a última tem vantagem graças a forte apelo à alma e às suas qualidades — o amor, a justiça, a moralidade, e, portanto, não há uma guerra que a Rússia não ganhava. E na sua longa luta não é sozinha.
Lyuba Lulko