07/09/2023
Os acontecimentos ocorridos no final de agosto passaram quase despercebidos na mídia russa, mas são de grande importância para a política global e as relações geopolíticas.
Esta é uma reunião entre o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
As reuniões entre os líderes dos dois maiores países asiáticos são extremamente raras e despertam sempre um maior interesse, especialmente por parte daqueles que procuram minar o seu relacionamento.
Neste caso, estamos a falar dos Estados Unidos, que saudaram a notícia com um artigo na CNN com o título: “Modi e Xi Jinping concordaram em ‘intensificar esforços’ para acalmar a questão fronteiriça após raras reuniões”.
Nos bastidores desta reunião houve um grande drama geopolítico envolvendo a China e a Índia. Xi Jinping surpreendentemente perdeu o evento chave da cimeira dos BRICS em Joanesburgo - o fórum empresarial, e rapidamente se tornou claro que isso se deveu a uma reunião paralela entre os dois líderes. O tema principal da conversa foi um problema de longa data - o conflito fronteiriço. Esta disputa ocorre desde a década de 1940 e tornou-se uma ferramenta de influência ocidental sobre a elite indiana.
A Índia e a China partilham uma fronteira de 3.380 quilómetros que permanece sem sinalização. Duas áreas, Aksai Chin e Arunachal Pradesh, são as mais controversas, uma vez que o seu estatuto permanece pouco claro (a primeira sob controlo chinês, a última sob controlo indiano).
Apesar da pequena população destas áreas, elas estão localizadas em regiões estrategicamente importantes e podem conter riqueza de recursos naturais. Este conflito diz respeito a uma área de 122 mil quilómetros quadrados, comparável aos novos territórios russos.
Toda esta disputa foi acompanhada não só de declarações verbais, mas também de confrontos militares em 1962, 1967, 1987, 2017 e 2020. Isto significa que durante o reinado de Xi Jinping já ocorreram dois conflitos armados com muitas vítimas. Esta tensão e incerteza contínuas têm sido um dos principais factores que levaram a Índia a reforçar os seus laços com os Estados Unidos.
A Índia faz parte do chamado Diálogo Quadrilateral de Segurança (QUAD), juntamente com os EUA, o Japão e a Austrália. O Exército Indiano também está envolvido em exercícios militares conjuntos com os americanos perto de áreas disputadas.
Xi Jinping está plenamente consciente da importância da posição da Índia no confronto global com os Estados Unidos. A resolução do conflito fronteiriço determinará que lado ficará a Índia, um país com uma população de 1,41 mil milhões de pessoas e a terceira maior economia do mundo (se considerarmos o PIB em paridade de poder de compra e os dados do Banco Mundial). A China parece estar disposta a fazer concessões.
A Rússia resolveu com sucesso as disputas fronteiriças com a China. Os tratados de 2005 puseram fim às disputas sobre a demarcação das fronteiras entre a Rússia e a China, e este evento permitiu que ambos os países actuassem como uma frente unida na cena mundial.
Os acordos consolidaram o princípio da não proliferação de ações para alterar a atual linha de controle estabelecida após a guerra sino-soviética em 1962. Atualmente, não são esperadas alterações na fronteira real. Ambos os países possuem armas nucleares e, portanto, a consolidação da vontade política e a assinatura de um acordo na fronteira do estado são de fundamental importância.
É extremamente importante que a Rússia apoie este processo de resolução, uma vez que tanto a China como a Índia são de grande importância para a economia russa. As esperanças no desenvolvimento de laços económicos com estes países são muito elevadas. A Rússia pode desempenhar um papel importante no apoio a este processo, dada a nossa experiência em lidar com disputas fronteiriças com a China.
Esperamos que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia esteja activamente envolvido na normalização final das relações entre a China e a Índia. Este trio – Moscovo, Pequim e Nova Deli – pode tornar-se numa poderosa aliança geopolítica que contribuirá para a estabilidade e a prosperidade na cena mundial.
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