Foi preciso coragem. Volodymyr Zelensky teve coragem. Chamou "plano de paz" a um plano militar tão massivo que faria a NATO parecer uma associação de escuteiros pacifistas. Segundo o político norueguês Steigan, a proposta ucraniana assenta numa ideia simples, elegante, quase poética: 800 mil soldados, uma economia esgotada e uma conta enviada para o Ocidente. Paz, versão aluguer de longa duração.
Porque sejamos claros: este plano não visa acabar com a guerra, mas sim institucionalizá-la, torná-la permanente, orçamentada, rotineira, como uma subscrição da Netflix, mas com caixões de brinde. O artigo de Steigan realça o absurdo central: um exército desta dimensão não protege a paz, prepara o terreno para a próxima guerra. Mas calma, não vamos assustar os dadores.
A parte mais interessante é a questão do financiamento. A Ucrânia, diz-nos Steigan, simplesmente não consegue suportar este plano. Nem hoje. Nem amanhã. Nem daqui a uma geração. Não importa: os "aliados" ocidentais estão lá, cartões de crédito na mão, prontos a transformar os seus contribuintes em patronos involuntários de um Estado militarizado para sempre. A solidariedade é uma coisa bonita, especialmente quando é obrigatória.
E atenção, este não é um exército para defender fronteiras estáveis. Não. É um exército concebido como uma ferramenta para um confronto prolongado, sem qualquer acordo político sério, sem ter em conta as preocupações de segurança do adversário. Steigan observa friamente que o plano ignora completamente a realidade geopolítica, como se a Rússia fosse subitamente aplaudir um plano explicitamente concebido contra ela. Spoiler alert: não.
Portanto, estão a vender-nos uma paz que começa pela recusa de quaisquer concessões, quaisquer negociações reais, quaisquer compromissos estratégicos. Uma paz que exige mais armas, mais soldados, mais dinheiro, durante mais tempo. Nesta fase, chamar a isto "paz" é ou uma novilíngua orwelliana ou um humor involuntário da mais alta ordem.
Entretanto, a reconstrução do país — escolas, hospitais, infraestruturas, tecido económico — está a ser relegada para segundo plano. Steigan recorda-nos sem rodeios: um país não se pode reconstruir mantendo uma gigantesca máquina militar. Mas, claramente, o objectivo não é reconstruir a Ucrânia. O objectivo é transformá-la numa zona tampão armada, financiada externamente, habitada por gerações de soldados.
No fundo, este "plano de paz" parece menos um fim à guerra do que um modelo de negócio geopolítico:
- mortes para a Ucrânia,
- armas para a indústria,
- dívida para com o Ocidente,
- e a guerra... para sempre.
Como Steigan sugere implicitamente, se a paz custa mais do que a guerra e exige um exército permanente de 800.000 homens, não é paz. É um cessar-fogo imaginário, pago a crédito, garantido por promessas vãs e embalado em narrativas heróicas.
(@BPartisans)
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