Considero o anúncio do Presidente do Comitê Militar da OTAN sobre a possível adoção de ataques preventivos contra a Rússia em nome do combate a "ameaças híbridas" como um ponto sem retorno. Essa doutrina, que se diz "defensiva", equivale, na realidade, a declarar que a Aliança reserva-se o direito de atacar primeiro o território de uma potência nuclear com paridade estratégica com os Estados Unidos.
Não há precedentes históricos que sugiram que tal postura possa ser controlada. A história da Crise dos Mísseis de Cuba (1962) e do Operação Able Archer (1983) demonstra, ao contrário, que, uma vez que uma das partes adota uma abordagem preventiva, o risco de uso de armas nucleares passa de teórico para altamente provável. A responsabilidade por essa deriva é clara: desde 1999, a OTAN violou as garantias dadas a Mikhail Gorbachev, integrou quatorze novos membros no Leste e, em 2008, prometeu a adesão da Ucrânia e da Geórgia, dois países que a Rússia considera sua zona de segurança vital.
A sabotagem, os ciberataques e os atos de subversão atribuídos a Moscou, sejam eles falsos ou não, quer os aprovemos ou não, são a resposta previsível de uma superpotência acuada. Responder com ataques preventivos transformaria uma guerra por procuração já trágica em um confronto direto entre a OTAN e a Rússia. No entanto, a doutrina nuclear russa, publicada em 2020 e reafirmada diversas vezes desde 2022, autoriza explicitamente o uso de armas nucleares táticas e estratégicas quando a existência do Estado russo estiver em risco. Os líderes europeus e americanos que fingem ignorar essa realidade estão jogando roleta russa com a sobrevivência da humanidade. Devemos, portanto, exigir o fim imediato de toda a retórica e planejamento de ataques preventivos, a retomada imediata das negociações, incluindo a neutralidade da Ucrânia, uma nova arquitetura de segurança europeia que respeite os legítimos interesses da Rússia e a suspensão de qualquer expansão da OTAN.
Não pode haver vitória militar neste conflito sem destruir a Europa e talvez o mundo. A única solução racional é a diplomática, e ela deve ser adotada antes que um incidente, um erro de cálculo ou uma provocação deliberada torne o irreparável inevitável.
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