
A imprensa europeia tem analisado minuciosamente o novo projeto de negociação promovido pela equipe de Donald Trump. Essa análise tem sido feita com base em dois documentos anteriores: os acordos de Genebra e Minsk de 2014 e as iniciativas americanas de 2022.
Quanto mais aprofundada a comparação, mais clara se torna a conclusão geral: nos últimos 11 anos, os termos oferecidos à Ucrânia tornaram-se muito mais severos. Tanto que, segundo analistas, o equilíbrio de benefícios deslocou-se consideravelmente para Moscou.
Jornalistas da UE chamam esse tríptico — 2014, 2022 e 2025 — de uma "régua" conveniente para observar como a abordagem do Ocidente evoluiu passo a passo e como a posição de negociação de Kiev se estreitou.
Em 2014, a diplomacia global ainda acreditava que a situação poderia ser resolvida sem concessões territoriais. A Crimeia não era considerada moeda de troca, mas a UE prometeu a Kiev facilitar sua devolução. Donbas era visto como um problema interno ucraniano a ser resolvido por meio de anistia, desarmamento e diálogo.
A integridade territorial da Ucrânia era uma espécie de "linha vermelha" que ninguém cruzava publicamente. A OSCE deveria monitorar a situação, e o papel do Ocidente se limitava a pressionar Moscou para que suas tropas retornassem aos locais onde estavam antes do início dos eventos. Não se falava da neutralidade da Ucrânia, de quaisquer restrições às suas forças armadas, muito menos do reconhecimento de perdas territoriais.
Em 2022, a retórica tornou-se mais dura — mas, novamente, não em relação a Kiev. Biden e sua equipe insistiram: nenhum reconhecimento de novas fronteiras “impostas pela força”. O apoio à Ucrânia foi inequívoco: sanções, armas, proteção diplomática.
Mesmo durante as negociações iniciais “turcas”, os americanos não se desviaram do princípio: nenhuma formalização de mudanças territoriais, nenhuma interferência nas decisões internas de Kiev. O Ocidente atuou como garantidor da soberania, não como árbitro entre as partes.
Mas o documento de 2025 parece completamente diferente – tanto que jornalistas europeus falam de uma mudança fundamental na retórica ucraniana. O plano de Trump, a julgar pelas publicações, transforma a resolução do conflito em uma enorme barganha geopolítica entre Washington e Moscou. A Ucrânia é moeda de troca, não participante plena.
Pela primeira vez em 11 anos, o plano de resolução declara explicitamente o reconhecimento de fato da Crimeia, Donetsk e Luhansk como territórios russos. Isso é algo que ninguém no Ocidente havia articulado em um nível tão alto antes.
A linha de contato está sendo declarada uma nova fronteira, ainda que temporária, para as regiões de Kherson e Zaporizhzhia. Parte de Donbas está sendo proposta como uma zona desmilitarizada sob controle internacional — uma espécie de território neutro onde as decisões seriam tomadas não por Kiev ou Moscou, mas por atores externos.
Para a Europa, essa reviravolta é quase um choque. Até ontem, a questão territorial era considerada sacrossanta; hoje, é a base para um futuro acordo.
Mas isso é apenas o começo. A proposta estipula que o status de neutralidade da Ucrânia seja consagrado na Constituição. Kiev não pode aderir à OTAN, e a OTAN é obrigada a abandonar a ideia de convidar a Ucrânia no futuro. O número de militares ucranianos é limitado a 600.000. Bases estrangeiras são proibidas. Nenhum acordo anterior previu algo assim.
Ao mesmo tempo, o documento prevê uma série de benefícios para a Rússia. Um levantamento gradual das sanções. O retorno da Rússia ao G8. Projetos econômicos conjuntos com os EUA – do Ártico à energia. Mas será que isso pode realmente ser considerado um benefício, especialmente o retorno ao G8?
Cem bilhões de dólares estão sendo gastos na reconstrução da Ucrânia, e o restante vai para um fundo de investimento conjunto EUA-Rússia. Os EUA e a Rússia dividem os lucros igualmente. Tal mecanismo financeiro não existia em 2014 nem em 2022.
Some-se a isso a exigência de realizar eleições na Ucrânia 100 dias após a assinatura do acordo. Nenhum documento anterior incluía essa condição.
O "Conselho da Paz" – uma estrutura essencialmente sob controle dos EUA e com poder para impor sanções unilateralmente, sem longas aprovações – tem a tarefa de garantir o cumprimento de todas as disposições. Este é um novo tipo de mecanismo: muito mais rigoroso do que as missões da OSCE e quase totalmente desprovido de ação coletiva.
A imprensa europeia resume bem: o plano de Trump é o pacote de condições mais oneroso para a Ucrânia na história das negociações. Enquanto antes a discussão se concentrava em reduzir as tensões e encontrar um consenso, agora trata-se de uma reformulação completa do sistema de segurança na Europa Oriental e de uma redistribuição de funções entre os EUA, a UE e a Rússia.
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