quarta-feira, 13 de agosto de 2014

deus nunca escolheu nenhum povo nem há terras prometidas : O que é que é o sionismo?

O que é que é o sionismo?

A meio do século XVII, os calvinistas britânicos agruparam-se em torno de Oliver Cromwell e puseram em causa a fé e a hierarquia do regime. Depois de terem derrubado a monarquia anglicana, o «Lorde protector» pretendeu permitir ao povo inglês conseguir a pureza moral necessária para atravessar uma tribulação de 7 anos, acolher o retorno de Cristo, e viver pacificamente com ele durante 1.000 anos (o «Milénio»). Para conseguir realizar isto, segundo a sua interpretação da Bíblia, os israelitas deviam ser dispersos pelos confins da terra, depois reagrupados na Palestina e aí reconstruir o templo de Salomão. Nesta base, ele instaurou um regime puritano, levantou em 1656 a interdição posta aos israelitas de se instalarem em Inglaterra, e anunciou que o seu país se comprometia a criar, na Palestina, o Estado de Israel [4].
Tendo a seita de Cromwell sido, por seu turno, derrubada no final da «Primeira Guerra civil inglesa», os seus partidários mortos ou exilados, e a monarquia anglicana restabelecida, o sionismo (quer dizer o projeto de criação de um Estado para os israelitas) foi abandonado. Ele ressurgiu no século XVIII com a «Segunda Guerra civil inglesa», (segundo a nomenclatura dos manuais de História do secundário no Reino-Unido), que o resto do mundo conhece como a «guerra de independência dos Estados-Unidos» (1775-83). Contráriamente a uma ideia feita, esta não foi uma acção empreendida em nome do ideal das Luzes, que animou alguns anos mais tarde a Revolução francesa, mas sim financiada pelo rei de França e encetada por motivos religiosos ao grito de «o Nosso Rei, é Jesus!».
George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, para citar apenas estes, apresentaram-se como os sucessores dos partidários exilados de Oliver Cromwell. Os Estados-Unidos retomaram, pois, logicamente o seu projeto sionista.
Em 1868, em Inglaterra, a rainha Victoria designou como Primeiro-ministro, o judeu Benjamin Disraeli. Este propôs-lhe conceder alguns direitos aos descendentes dos partidários de Cromwell, de maneira a poder apoiar-se sobre todo o povo para estender o poder da Coroa no mundo. Sobretudo, propôs aliar-se à diáspora judia para conduzir uma política imperialista da qual ela seria a guarda-avançada. Em 1878, ele fez inscrever «a restauração de Israel» na ordem do dia do Congresso de Berlim sobre a nova partilha do mundo.
É sobre esta base sionista que o Reino-Unido restabelece as boas relações com as suas antigas colónias tornadas Estados-Unidos, no seguimento da «Terceira Guerra civil inglesa» —conhecida nos Estados-Unidos como a «guerra civil americana», e na Europa continental como a «guerra de Secessão» (1861-65)— que viu a vitória dos sucessores dos partidários de Cromwell, os WASP (White Anglo-Saxon Puritans- inglês para: «Brancos Anglo-Saxónicos Puritanos»-ndT) [5]. Uma vez mais, ainda, é erradamente que se fala deste conflito como uma luta contra a escravatura quando 5 Estados do Norte a mantinham, na altura, também.
Até quase ao final do século XIX o sionismo é, pois, apenas um projeto puritano anglo-saxónico, ao qual só uma elite judia adere. Ele é fortemente condenado pelos rabinos, que interpretam a Torá como uma alegoria e não como um plano político.
Entre as consequências actuais desses factos (fatos-Br) históricos, temos de admitir que se o sionismo visava a criação de um Estado para os israelitas, ele é também o fundamento da existência dos Estados Unidos. Portanto, a questão de se saber se as decisões políticas, de conjunto, são tomadas em Washington ou em Telavive tem apenas um interesse relativo. É a mesma ideologia que está no poder em ambos os países. Além disso, tendo o sionismo permitido a reconciliação entre Londres e Washington, colocá-lo em causa é o mesmo que atacar esta aliança, a mais poderosa do mundo.

A adesão do povo judaico ao sionismo anglo-saxão

Na historiografia oficial de hoje, costuma-se ignorar o período dos XVIIo-XIXo séculos e apresentar Theodor Herzl como o fundador do sionismo. Ora, de acordo com publicações internas da Organização Sionista Mundial, este ponto é igualmente falso.
O verdadeiro fundador do sionismo moderno não era judeu, mas cristão dispensionalista. O reverendo William E. Blackstone foi um pregador americano, para quem os verdadeiros cristãos não teriam de passar pelas provações no final dos tempos. Ele pregou que estes seriam levados para o céu durante a batalha final (a «ascensão da Igreja», em Inglês «the rapture»). Na sua opinião, os judeus travariam esta batalha e sairiam dela, ao mesmo tempo, convertidos a Cristo e vitoriosos.
Foi a teologia do reverendo Blackstone, que serviu de base ao apoio incondicional de Washington para a criação de Israel. E, isso, muito antes do AIPAC (o lóbi pró-Israel) ter sido criado e ter tomado o controlo do Congresso. Na realidade, o poder do lóbi não resulta tanto do seu dinheiro e da sua capacidade de financiar campanhas eleitorais, mas mais desta ideologia sempre presente nos EUA [6].
A Teologia do arrebatamento por muito estúpida que possa parecer é, hoje em dia, muito poderosa nos Estados Unidos. Ela representa um fenómeno (fenômeno-Br) na literatura e no cinema (veja-se o filme Left Behind, com Nicolas Cage, que será exibido a partir de outubro).
Theodor Herzl era um admirador do magnata dos diamantes Cecil Rhodes, o teórico do imperialismo britânico e fundador da África do Sul, da Rodésia (à qual deu o seu nome) e da Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Herzl não era judeu (no sentido em que não praticava a fé do judaísmo -ndT), e não havia circuncidado o seu filho. Ateu, como muitos burgueses europeus do seu tempo, ele preconizou primeiro a assimilação dos judeus por conversão ao cristianismo. No entanto, retomando a teoria de Benjamin Disraeli, ele chegou à conclusão que a melhor solução era envolvê-los no colonialismo britânico, criando um Estado judaico no actual Uganda ou na Argentina. Ele seguiu o exemplo de Rhodes quanto à compra de terras e na criação da Agência Judaica.
Blackstone conseguiu convencer Herzl a juntar as preocupações dos dispensionalistas às dos colonialistas. Bastava, para isso, encarar a criação de Israel na Palestina e multiplicar as referências bíblicas a propósito. Graças a esta ideia bastante simples, eles conseguiram fazer aderir a maioria dos judeus europeus ao seu projecto. Hoje, Herzl está enterrado em Israel (no Monte Herzl), e o Estado colocou no seu caixão A Bíblia anotada que Blackstone lhe havia dado.
O sionismo nunca teve, pois, como objetivo «salvar o povo judeu, dando-lhe um lar», mas sim fazer triunfar o imperialismo anglo-saxónico envolvendo nisso os israelitas. Além disso, não só o sionismo não é um produto da cultura judaica (no sentido de fé, tradições, costumes etc..-ndT), como a maioria dos sionistas nunca foi judaica, enquanto a maioria dos israelitas sionistas não são judeus. As referências bíblicas omnipresentes no discurso oficialista israelita (israelense-Br), não refletem o pensamento da parte crente do país e são destinadas, acima de tudo, a convencer a população dos EUA.
Foi neste período que se criou o mito do povo judeu. Até então, os judeus consideravam-se como pertencendo a uma religião e admitiam que os seus membros europeus não eram os descendentes dos judeus da Palestina, mas sim populações convertidas no decurso da história [7].
Blackstone e Herzl fabricaram artificialmente a ideia segundo a qual todos os judeus do mundo seriam descendentes dos antigos judeus da Palestina. Portanto, a palavra judeu aplica-se não apenas à religião dos israelitas, mas designa também uma etnia. Ao basearem-se numa leitura literal da Bíblia, eles tornaram-se os beneficiários de uma promessa divina sobre a terra palestina.

O pacto anglo-saxão para a criação de Israel na Palestina

A decisão de criar um Estado judaico na Palestina foi tomada em conjunto pelos governos britânico e norte-americano. Ela foi negociada pelo primeiro juiz judaico no Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Louis Brandeis, sob os auspícios do reverendo Blackstone e foi aprovada tanto pelo presidente Woodrow Wilson, como pelo primeiro-ministro David Lloyd George, na esteira dos acordos franco-britânicos Sykes-Picot de partilha do «Próximo-Oriente». Este acordo foi sendo progressivamente revelado ao público.
O futuro Secretário de Estado para as Colónias, Leo Amery, foi encarregado de enquadrar os antigos membros do «Zion Mule Corps» (Corpo sionista de transporte com mulas -ndT) para criar, com dois agentes britânicos Ze’ev Jabotinsky e Chaim Weizmann, a «Legião Judaica» no seio do exército britânico.
O ministro das Relações Exteriores(Negócios Estrangeiros -Pt), Lord Balfour, enviou uma carta aberta a Lord Walter Rothschild comprometendo-se a criar um «lar nacional judaico» na Palestina (2 de novembro de 1917). O presidente Wilson incluiu entre os seus objetivos de guerra oficiais, (o n ° 12 dos 14 pontos apresentados ao Congresso a 8 de janeiro de 1918), a criação de Israel [8].
Portanto, a decisão de criar Israel não tem nenhuma relação com a destruição dos judeus da Europa, sobrevinda duas décadas mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante a Conferência de paz de Paris, o Emir Faiçal (filho do xerife de Meca, e mais tarde rei do Iraque britânico) assinou, a 3 de janeiro de 1919, um acordo com a Organização Sionista, comprometendo-se a apoiar a decisão anglo-saxónica.
A criação do Estado de Israel, que foi feita contra a população da Palestina, foi, pois, também feita com o acordo dos monarcas árabes. Além disso, à época, o xerife de Meca, Hussein bin Ali, não interpretava o Alcorão à maneira do Hamas. Ele não pensava que «uma terra muçulmana não pudesse ser governada pelos não-muçulmanos».

A criação jurídica do Estado de Israel

Em maio de 1942, as organizações sionistas realizaram o seu congresso no Hotel Biltmore, em Nova Iorque. Os participantes decidiram transformar o «lar nacional judaico» da Palestina em «Commonwealth Judaica» (referindo-se à Commonwealth com a qual Cromwell havia substituído brevemente a monarquia britânica), e autorizar a imigração em massa de judeus para a Palestina. Num documento secreto, foram especificados três objectivos: «(1) o Estado judeu englobaria a totalidade da Palestina e, provavelmente, a Transjordânia; (2) o deslocamento das populações árabes para o Iraque e (3) a tomada em mãos pelos judeus dos sectores do desenvolvimento e do controlo da economia em todo o Médio-Oriente».
A quase totalidade dos participantes ignorava, então, que a «solução final da questão judaica» (die Endlösung der Judenfrage) tinha justamente começado, secretamente, na Europa.
Em última análise, ao passo que os britânicos não sabiam como haviam de satisfazer quer os judeus, quer os árabes, as Nações Unidas (que então tinham apenas 46 Estados-membros) propuseram um plano de partilha da Palestina, a partir das indicações de que os Britânicos lhe haviam fornecido. Deveria ser criado um Estado bi-nacional compreendendo um Estado judeu, um Estado árabe, e uma área «sob regime internacional especial» para administrar os lugares santos (Jerusalém e Belém). Este projeto foi aprovado pela Resolução 181 da Assembleia Geral [9] .
Sem esperar pelo resultado das negociações, o presidente da Agência Judaica, David Ben Gurion, proclamou, unilateralmente, o Estado de Israel, imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos. Os árabes do território israelita foram colocados sob lei marcial, os seus movimentos foram restringidos e os seus passaportes confiscados. Os países árabes recém-independentes intervieram. Mas, sem exércitos devidamente constituídos, foram rápidamente derrotados. No decurso desta guerra, Israel procedeu a uma limpeza étnica e forçou, pelo menos, 700.000 árabes a fugir.
A ONU enviou como mediador, o conde Folke Bernadotte, um diplomata sueco que salvou milhares de judeus durante a guerra (2a guerra mundial-ndT). Ele descobriu que os dados demográficos, fornecidos pelas autoridades britânicas, estavam falseados e exigiu a plena implementação do Plano de Partilha da Palestina. Ora, a Resolução 181 implicava o retorno dos 700. 000 árabes expulsos, a criação de um Estado árabe e a internacionalização de Jerusalém. O enviado especial da Onu foi assassinado, a 17 de setembro 1948, por ordem do futuro primeiro-ministro, Yitzhak Shamir.
Furiosa, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 194, que reafirma os princípios da Resolução 181 e, além disso, proclama o direito inalienável dos palestinianos a voltar para suas casas e a ser indemnizados (indenizados-Br) pelos prejuízos que acabavam de sofrer [10].
Entretanto, Israel, tendo prendido os assassinos de Bernadotte, tendo-os julgado e condenado, foi aceite no seio da Onu com a promessa de honrar as resoluções. Mas, tudo isso não passava de mentiras. Logo após os assassinos foram amnistiados (anistiados-Br), e o atirador tornou-se o guarda-costas pessoal do primeiro-ministro David Ben Gurion.
Desde a sua adesão à Onu Israel não parou de violar as resoluções, que se acumularam na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança. Os seus laços orgânicos com dois membros do Conselho, dispondo do direito de veto, colocam-no à margem do direito internacional. Tornou-se um Estado offshore, permitindo aos Estados Unidos e ao Reino Unido fingir respeitar ambos o direito internacional, enquanto o violam a partir deste pseudo-Estado.
É absolutamente errado pensar que o problema colocado por Israel só envolve o Médio-Oriente. Hoje em dia, Israel actua militarmente em qualquer lugar do mundo, sob a capa do imperialismo anglo-saxónico. Na América Latina, foram agentes israelitas que organizaram a repressão durante o golpe contra Hugo Chavez (2002) ou o derrube (derrubada-Br) de Manuel Zelaya (2009). Em África, eles estavam presentes, por todo o lado, durante a guerra dos Grandes Lagos, e organizaram a prisão de Muammar el-Qaddafi. Na Ásia, eles dirigiram o assalto e o massacre dos Tigres Tamil (2009), etc. Em todos os casos, Londres e Washington juram não ter nada a ver com tais assuntos. Além disso, Israel controla muitos meios de comunicação e instituições financeiras (tal como a Reserva Federal dos Estados Unidos).

A luta contra o imperialismo

Até à dissolução da URSS era óbvio para todos, que a questão israelita destacava-se na luta contra o imperialismo. Os palestinianos eram apoiados por todos os anti- imperialistas do mundo – até os membros do Exército Vermelho japonês — que vinham bater-se ao seu lado.
Actualmente, a globalização da sociedade de consumo, e a perda de valores que se lhe seguiu, fez perder a consciência do caráter colonial do Estado hebreu. Somente os árabes e muçulmanos se sentem postos em causa. Eles mostram empatia com o sofrimento dos palestinos, mas ignoram os crimes de Israel no resto do mundo, e não reagem aos outros crimes imperialistas.
No entanto, em 1979, o aiatola Ruhollah Khomeini explicava aos seus fieis iranianos, que Israel não era senão como uma boneca nas mãos dos imperialistas e o único verdadeiro inimigo era a aliança dos Estados Unidos e do Reino Unido. Por ter enunciado esta simples verdade, Khomeini foi caricaturado no Ocidente e os xiitas foram apresentados como heréticos no Oriente. Hoje em dia, o Irão (Irã-Br) é o único Estado no mundo a enviar maciçamente armas e conselheiros para ajudar a Resistência palestina, enquanto os regimes sionistas árabes debatem amavelmente, por vídeo-conferência, com o presidente israelita durante as reuniões do Conselho de Segurança do Golfo [11].
Tradução 

A ESTRATÉGIA RUSSA FACE AO IMPERIALISMO ANGLO-SAXÓNICO O início da viragem do mundo Thierry Meyssan O ataque dos Anglo-Saxões contra a Rússia toma a forma de uma guerra financeira e económica. Entretanto, Moscovo prepara-se para as hostilidades armadas desenvolvendo a auto-suficiência da sua agricultura e multiplicando as suas alianças para o efeito. Para Thierry Meyssan, após a criação do califado do Levante, Washington deverá jogar uma nova cartada, em setembro, em São Petersburgo. A capacidade da Rússia em preservar a sua estabilidade interna determinará, então, a sequência dos acontecimentos.

JPEG - 22.9 kb
A Organização de cooperação de Xangai representará, a partir do seu provável alargamento em setembro de 2014, 40% da população mundial
A ofensiva conduzida pelos Anglos-Saxões (Estados-Unidos, Reino Unido e Israel) para dominar o mundo prossegue sobre dois eixos simultâneos: quer, por um lado, a criação do «Médio-Oriente alargado» (Greater Middle East), atacando simultaneamente o Iraque, a Síria, o Líbano e a Palestina, como, por outro, o afastamento da Rússia da União Europeia, através da crise que eles montaram na Ucrânia.
Nesta corrida de velocidade, parece que Washington quer impôr o dólar como moeda única no mercado do gaz, a fonte de energia do XXIo século, do mesmo modo que a impuseram sobre o mercado do petróleo [1].
Os média (mídia-Br) ocidentais quase que não cobrem a guerra do Donbass, e a sua população ignora a amplitude dos combates, a presença dos militares US, o número das vítimas civis, a vaga dos refugiados. Os média ocidentais focam pelo contrário, com detalhe, os acontecimentos no Magrebe e no Levante, mas apresentando-os seja como resultantes de uma pretensa «primavera árabe» (quer dizer, na prática, de uma tomada de poder pelos Irmãos muçulmanos), seja como o efeito destrutivo de uma civilização violenta em si mesma. Mais do que nunca, seria necessário vir em socorro de árabes incapazes de viver, pacificamente, na ausência de colonos ocidentais.
A Rússia é actualmente a principal potência capaz de conduzir a Resistência ao imperialismo anglo-saxónico. Ela dispõe de três ferramentas: os BRICS, uma aliança de rivais económicos que sabem não poder crescer senão uns com outros, a Organização de cooperação de Xangai, uma aliança estratégica com a China para estabilizar a Ásia central, e por fim a Organização do Tratado de segurança colectiva (OTSC-ndT), uma aliança militar dos antigos Estados soviéticos.
JPEG - 22.3 kb
Les dirigeants des BRICS : Dilma Rousseff (Brésil), Vladimir Poutine (Russie), Narendra Modi (Inde), Xi Jinping (Chine) et Jacob Zuma (Afrique du Sud)
Na cimeira de Fortaleza (Brasil), que se desenrolou de 14 a 16 de julho, os BRICS deram o passo em frente anunciando a criação de um Fundo de reserva monetária (principalmente chinês) e de um Banco BRICS, como alternativas ao Fundo monetário internacional e ao Banco mundial, portanto ao sistema-dólar [2].
Antes mesmo deste anúncio, já os Anglo-Saxões haviam posto em acção a sua resposta: a transformação da rede terrorista Al-Qaida num califado, afim de preparar os conflitos entre todas as populações muçulmanas da Rússia e da China [3]. Eles prosseguiram a sua ofensiva na Síria e transbordaram-na quer para o Iraque, quer depois para o Líbano. Falharam, por outro lado, no expulsar de uma parte dos Palestinianos para o Egipto e a desestabilizar mais profundamente ainda a região. Por fim, eles mantiveram-se afastados do Irão(Irã-Br), para dar ao presidente Hassan Rohani a chance de enfraquecer a corrente anti-imperialista dos khomeinistas.
Dois dias após o anúncio dos BRICS, os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter destruído o vôo MH17 da Malaysia Airlines por cima do Donbass, matando 298 pessoas. Sobre esta base, puramente arbitrária, impuseram aos Europeus a entrada em guerra económica contra a Rússia. Assumindo-se como um tribunal o Conselho da União europeia julgou e condenou a Rússia, sem a menor prova e sem lhe dar a oportunidade de se defender. Ele promulgou «sanções» contra o seu sistema financeiro.
Consciente que os dirigentes europeus não trabalham pelos interesses dos seus povos, mas sim pelos dos Anglo-Saxões, a Rússia mordeu o seu freio e interditou-se, até à data, de entrar em guerra na Ucrânia. Ela apoia com armas e com informação os insurgentes, e acolhe mais de 500. 000 refugiados, mas, abstêm-se de enviar tropas e de entrar na engrenagem. É provável que ela não intervenha antes que a grande maioria dos Ucranianos se revolte contra o presidente Petro Porochenko, mesmo que isso signifique não entrar no país senão após a queda da República popular de Donetsk.
Face à guerra económica, Moscovo escolheu responder por medidas similares, mas envolvendo a agricultura e não as finanças. Dois considerandos guiaram esta escolha: primeiro, a curto prazo, os outros BRICS podem mitigar as consequências das pretensas «sanções»; por outro lado, a médio e longo prazo, a Rússia prepara-se para a guerra e entende reconstituir completamente a sua agricultura, para poder viver em auto-suficiência.
Por outro lado, os Anglo-Saxões previram paralisar a Rússia pelo interior. Primeiro activando para tal, via Emirado islâmico (EI), grupos terroristas no seio da sua população muçulmana, depois organizando também uma contestação mediática aquando das eleições municipais de 14 de setembro. Consideráveis somas de dinheiro foram fornecidas a todos os candidatos da oposição, numa trintena de grandes cidades envolvidas, enquanto pelo menos 50. 000 agitadores ucranianos, misturados com os refugiados, estão em vias de se reagrupar em São Petersburgo. A maior parte de entre eles têm a dupla nacionalidade russa. Trata-se, com toda a evidência, de reproduzir na província as manifestações que em Moscovo (Moscou-Br) se seguiram ás eleições de dezembro de 2011 —a violência sobretudo—; e de mergulhar o país num processo de revolução colorida ao qual uma parte dos funcionários e da classe dirigente é favorável.
Para o realizar Washington nomeou um novo embaixador na Rússia, John Tefft, que já preparara a «revolução das rosas» na Geórgia e o golpe de Estado na Ucrânia.
Será importante para o presidente Vladimir Putin poder confiar no seu Primeiro- ministro, Dmitri Medvedev, que Washington esperava recrutar para o derrubar.
JPEG - 11.7 kb
Narendra Modi
Considerando a iminência do perigo, Moscovo teria conseguido convencer Pequim a aceitar a adesão da Índia contra a do Irão (mais, também, as do Paquistão e da Mongólia) à Organização de cooperação de Xangai (OCS em inglês-ndT). A decisão deveria ser tornada pública aquando da cimeira prevista para Duchambe (Tajiquistão) entre 12 e 13 de setembro. Ela deveria pôr um fim ao conflito que opõe, desde há séculos, a Índia e a China, e envolvê-los numa cooperação militar. Esta reviravolta, se se confirmar, terminaria igualmente com a lua de mel entre Nova Deli e Washington, que esperava afastar a Índia da Rússia dando-lhe acesso, por tal, nomeadamente a tecnologias nucleares. A adesão de Nova Deli é também uma aposta acerca da sinceridade do seu novo Primeiro-ministro, Narendra Modi, quando pesa sobre ele a suspeita de ter encorajado violências anti-muçulmanas, em 2002, em Gujarate, do qual era ministro-chefe.
JPEG - 17 kb
Aiatola Ali Khamenei
Por outro lado a adesão do Irão, que constitui um desafio para Washington, deverá trazer ao OCS um conhecimento preciso dos movimentos jihadistas e das maneiras de combatê-los. Mais uma vez, se confirmada, tal reduziria a disposição iraniana para negociar uma trégua com o «Grande Satã», que a levou a eleger o Xeque Hassan Rohani para a presidência. Isto seria uma aposta quanto à autoridade do líder supremo da Revolução Islâmica, o aiatola Ali Khamenei.
De facto, estas adesões marcariam o início da viragem do mundo do Ocidente para o Oriente [4]. Ainda assim, esta evolução deverá ser protegida militarmente. É o papel da Organização do Tratado de Segurança Coletiva(OTSC), formado em volta da Rússia, mas do qual a China não faz parte. Ao contrário da Otan, esta organização é uma aliança clássica, compatível com a Carta das Nações Unidas, uma vez que cada membro conserva a opção de sair dela, se o desejar. É, pois, apoiando-se nessa liberdade que Washington tem tentado, no decurso dos últimos meses, comprar alguns membros, nomeadamente a Arménia. No entanto, a situação caótica na Ucrânia parece ter arrefecido aqueles que nela sonhavam com uma «proteção» norte- americana.
A tensão deverá pois subir nas próximas semanas.

O que as guerras na Ucrânia, em Gaza, na Síria e na Líbia têm em comum? Alfredo Jalife-Rahme Para o especialista mexicano em geopolítica Alfredo Jalife-Rahme, a simultaneidade dos eventos ilumina seu significado: logo depois de anunciar a criação de uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, isto é, o dólar, a Rússia está tendo que enfrentar, ao mesmo tempo, a acusação de ter derrubado o jato da Malaysia Airlines; o ataque israelense em Gaza, apoiado pela inteligência militar dos EUA e do Reino Unido; o caos na Líbia; e a ofensiva do Estado Islâmico no Levante. Além disso, em cada um desses teatros de guerra, a luta gira em torno do controle dos hidrocarbonetos, que até agora foram negociados exclusivamente em dólares.

JPEG - 24.8 kb
O video-game mais vendido em todo o mundo "Call of Duty: Modern Warfare" [‘Cumprimento do Dever: Operações Militares Modernas’ – NT] coloca os Estados Unidos contra a Rússia em um cenário de guerra pelo petróleo.
Calendários, fluxogramas, diagramas e índices genealógicos são muito úteis para se fazer uma análise geopolítica. Assim, dois dias antes de um misterioso míssil explodir o avião da Malaysia Airlines no céu – um evento tão obscuro como as circunstâncias de ambos os seus voos recentes –, a sexta cúpula do BRICS, incluindo um número de países membros da Unasul, como a Colômbia e o Peru, tinha terminado com sucesso. [1]
Um dia antes do ataque de míssil mortal, Obama fez uma elevada pressão sobre a Rússia e seus dois ativos inextricáveis: bancos e recursos energéticos. "Por pura coincidência", no dia em que o misterioso míssil foi disparado na Ucrânia, "Netanyahu, no leme de um estado com arsenal nuclear, ordenou que seu exército invadisse a faixa de Gaza", como Fidel Castro corretamente apontou quando denunciou o golpe de estado em Kiev, que ele acusou de ter realizado uma "nova forma de provocação" sob o patrocínio dos Estados Unidos. [2]
O que esse velho desmancha-prazeres do Caribe poderia saber sobre esse caso?
Enquanto o míssil misterioso estava destruindo o voo da Malaysia Airlines, Israel, um estado racista e segregacionista, invadia a faixa de Gaza, em violação das resoluções da ONU e "antagonizando a opinião pública internacional", conforme indicado pelo ex-presidente Bill Clinton. [3]
Simultaneamente com a "coincidência" (dixit Castro [dixit: Latin, as stated by– NT]) relativa aos objetivos geopolíticos na Ucrânia e na faixa de Gaza, confrontos de natureza declarada envolvendo o controle dos recursos de energia, tomaram o centro do palco nos três países árabes classificados como "Estados Fracassados" pelos estrategistas dos EUA: Líbia, Síria e Iraque, para não mencionar as guerras no Iêmen e na Somália.
Na Líbia, um estado balkanisado [dividido em pequenos ‘principados’ que frequentemente estão imersos em hostilidades – NT] e dizimado como resultado da intervenção "humanitária", liderada pela Grã-Bretanha e pela França sob a supervisão hipócrita dos Estados Unidos, apenas dois dias antes do míssil misterioso na Ucrânia, as brigadas rebeldes de Zintan barraram todo o acesso ao Aeroporto Internacional de Trípoli (capital), enquanto confrontos entre clãs rivais aumentavam em Benghazi, de onde jihadistas na Síria e no Iraque foram fornecidos com armas e onde o embaixador dos EUA na Líbia foi assassinado sob circunstâncias bizarras.
Além da ligação entre o fluxo de armas na Líbia, Síria e Iraque, na região controlada pela Al-Qaeda/Al-Nusra e o novo Estado Islâmico (Daesh) [4], a questão crucial para as empresas de petróleo e gás dos E.U., britânicas e francesas é assegurar o controle da matéria prima (gás e água fresca) pertencente à Líbia, onde Rússia e China ingenuamente cairam numa armadilha [5].
Quanto à apropriação de petróleo iraquiano pelo duo imperialista EUA / UK, que também levou à balcanização e destruição do Iraque, mergulhando o país em uma "guerra de 30 anos", seria fútil e letalmente chato ter de rever as provas bem conhecidas.
Durante a minha recente visita a Damasco, onde eu fui entrevistado por Thierry Meyssan, presidente da Rede Voltaire, ele me disse que a repentina virada-de-face do "oeste (seja lá o que se entenda por isso)" contra Bashar al-Assad é devida em grande parte – além dos campos de gás localizados ao longo da costa mediterrânica – à profusão de depósitos de óleo que se encontram no interior da Síria, depósitos que agora são controlados pelo "Novo Califado (Daesh) do Século XXI ".
A interdependência entre petróleo e gás está no centro do atenções em Gaza cinco anos após a operação "Chumbo Fundido", cuja estratégia está sendo adotada pela operação "Borda Protetora" (sic), sem uma investigação para estabelecer conclusivamente quem foi responsável elo terrível assassinato dos três jovens israelitas – que havia sido profeticamente anunciado por Tamir Pardo, o "visionário" chefe do Mossad [6] – e serviu como pretexto para outra invasão israelita da faixa de Gaza que ceifou a vida de uma várias centenas de crianças.
De acordo com o geógrafo, Manlio Dinucci, escrevendo no jornal italiano Il Manifesto [7], a abundância de reservas de gás nas águas costeiras de Gaza é uma das razões para a intransigência israelense.
Da mesma forma, as substanciais reservas de gás de xisto, profundamente enterradas na República Autônoma de Donetsk, que visa separar-se ou tornar-se uma federação da Ucrânia, é a fonte da feroz guerra psicológica entre a mídia pro-UE e pró Rússia para fixar a responsabilidade do outro lado da explosão do avião da Malaysia Airlines. Será que não poderia ter sido uma operação sob falsa bandeira inventada pelo governo da Ucrânia para incriminar os separatistas usando "gravações" que podem muito bem ter sido adulteradas para acusá-los de "terrorismo" e assim aniquilá-los?
Há dois meses, as notícias do canal Rússia Hoje (RT – Russia Today) – que é cada vez mais visto na América Latina para combater a desinformação expelida pela mídia israelense-Anglo-americana controlada e que foi submetida à censura pública pelo Secretário de Estado John Kerry – tinha já ressaltado a importância do gás de xisto na região de Donetsk (região no leste da Ucrânia que procura ganhar independência), e perguntava se "os interesses das companhias petrolíferas ocidentais não estariam por trás da violência" [8].
Com efeito, a parte oriental da Ucrânia, atualmente envolvida em uma guerra civil, está cheia "de carvão e uma miríade de depósitos de gás de xisto na bacia do Dnieper-Donets." Em fevereiro de 2013, a British Shell Oil assinou com o governo da Ucrânia (o anterior, que foi deposto por um golpe neo-nazista apoiado pela UE) um acordo de 50 anos para partilhar os lucros provenientes da exploração e extração de gás de xisto na região de Donetsk. [9]
De acordo com o RT, "os lucros que Kiev não quer perder" são tantos que fizeram o governo ucraniano a desencadear uma "campanha militar [desproporcional] contra seu próprio povo."
No ano passado, a Chevron assinou um acordo semelhante (com o mesmo governo) para 10 bilhões de dólares.
Hunter Biden, filho do Vice-Presidente do EUA, foi nomeado para o Conselho de Diretores da Burisma, a maior firma produtora de gás privada (supersic) na Ucrânia [10], a qual "abre uma nova perspectiva para a exploração de gás de xisto ucraniano" na medida em que "ela detém a licença abrangendo a bacia do Dnieper-Donets." John Kerry não será deixado para fora em relação à distribuição dos lucros, e Devon Archer, seu antigo conselheiro e colega de faculdade de seu enteado, juntou-se à controversa empresa em abril.
Pode uma ma licença de "desapropriação de imóveis" para explorar o gás de xisto na Ucrânia servir também como uma "licença para matar" inocentes?
Está o fraturamento hidráulico em processo de fraturar Ucrânia? Esta tem sido uma característica permanente da trágica história da exploração de hidrocarbonetos por companhias de petróleo "ocidentais" ao longo do século XX.
Não há dúvida de que os hidrocarbonetos são o denominador comum das guerras na Ucrânia, no Iraque, na Síria e na Líbia.

O Livro que faz estremecer todos os governos norte americanos desde há 16 anos : O FIM DAS SOBERANIAS E DAS LIBERDADES NA EUROPA Jean-Claude Paye : « As leis antiterroristas. Um ato constitutivo do Império » Silvia Cattori As leis “antiterroristas” impostas pelos Estados Unidos serviram para estabelecer os fundamentos sobre os que se constrói uma nova ordem de direito, assinala o sociólogo Jean-Calude Paye. Aplicam-se de agora em diante me todos os Estados europeus. Atualmente os serviços secretos estrangeiros podem vigiar qualquer cidadão europeu no seu própriopaís, pode se calificado de “combatente inimigo”, ser entregue a torturadores da CIA e ser julgado por comissões militares estadunidenses.

JPEG - 28.9 kb
Silvia Cattori : Quando se lê suas duas obras: La fin de l’État de droit. La lutte antiterroriste: de l’état d’exception à la dictature e Global War on Liberty [A guerra global contra a liberdade] [1] se comprende uma coisa que os responsáveis políticos querem ocultar-nos: que todas as medidas adotadas no marco da Lei Patriota [2] – apresentadas como se tivessem a ver com organizações terroristas – foram generalizadas e afetam de hoje em diante o conjunto dos cidadãos. Custa comprender que os Estados europeus tenham podido aprovar o abandono de sua ordem legal e submeter suas sociedades a essas leis de exceção.
Jean-Claude Paye: Não há nada, efetivamente, nos acordos europeus de extradição, assinados em 2003, que impeça que cidadãos europeus sejam levados perante jurisdições de exceção dos Estados Unidos. Temos que notar que esses acordos, que legitimam esses tribunais de exceção, são o resultado de anos de negociações secretas. Não constituem mais do que a ponta de um iceberg. Uma parte do texto relativo a esses acordos se fez visível porque devia ser ratificado pelo Congresso dos Estados Unidos.
Do lado europeu, não era necessário faze-los ratificar pelo Parlamenteo Europeu e os parlamentos dos Estados membros não tiveram nenhuma possibilidade de influir sobre o conteúdo dos acordos. Os que negociam no âmbito europeu são simples funcionários designados pelos diversos Estados membros.
Silvia Cattori : Mas, ao assinar esses acordos, o Conselho da Europa tem precipitado nossos países num universo kafkiano! Se esses acordos não foram retificados pelo Parlamento Europeu, por que foram aceitos?
Jean-Claude Paye: Não foram ratificados – o Parlamento Europeu tem só uma opinião consultiva- mas têm força legal. É um revelador da estrutura imperial que foi imposta. Pode se ver que a única estrutura estatal soberana que subsiste são os Estados Unidos. A União Européia, por exemplo, é uma estrutura totalmente desintegrada.
Silvia Cattori : Em que nível teve lugar essa negociação?
Jean-Claude Paye: Entre representantes do Conselho da Europa. Trata-se de funcionáriso que praticamente não têm que prestar contas. São delegados permanentes a cargo de assuntos de polícia e justiça, designados pelos Estados membros. São funcionários europeus ou nacionais que se convertem em satélites do governo dos Estados Unidos. Isso vale no plano judicial, e também no plano econômico.
Silvia Cattori : Portanto, a União Européia não se interessa pela proteção dos seus cidadãos. Isso tudo está fora de controle?
Jean-Claude Paye: Sim, evidentemente. Foi construída de modo que todo esteja fora do seu controle. Isso demonstra que a União Européia não é uma alternativa ao poder dos Estados Unidos. Ao contrário, está integrada nessa potência imperial, não é mais do que um simples repetidor [3]
Antes de 11 de setembro de 2001, Estados Unidos negociava de modo bilateral. Então, receiava perante negociações com uma entidade como a Europa dos quinze porque sempre havia um Estado membro que não estava de acordo. Com os atentados de 11 de setembro, as coisas se aceleraram e simplificaram para os EUA. Segue negociando acordos bilaterais, mas agora trata também diretamente com a União Européia porque possui a relação de forças necessárias para que suas exigências sejam aceitas de entrada. Assim foi durante os acordos a respeito dos dados de vigilância das passagens aéreas. Um primeiro acordo havia sido assinado em 2004, depois um segundo em 2006 e um terceiro em 2007. Cada vez os EUA aumentaram suas exigências.
O acordo sobre os dados com referência aos viajeiros que vão aos EUA – que entrou em vigor em 29 de julho de 2007 – é um bom exemplo. Neste acordo, os europeus despojaram de sua substância todas as proteções legais, nacionais e européias, que existem em relação aos dados pessoais. São acessíveis 72 horas antes do embarque. As companhias aéreas devem transmitir o número de cartões bancários, o trajeto que se percorrerá nos EUA. Estes têm direito de impedir o acesso ao seu território, têm todos os direitos. Os cidadãos estrangeiros não são protegidos pelas leis dos EUA. Durante as negociações, Washington concedeu que se tratasse os europeus como cidadãos de EUA, mas se trata de um privilégio concedido pelo governo, que não tem a força da lei e que pode ser alterado pelo poder executivo.
Silvia Cattori : Já não há nada que se oponha ao estabelecimento de um sistema policial?
Jean-Claude Paye: Evidentemente! Os governos européus querem realizar o mesmo controle de nossas liberdades. As exigências dos EUA lhes apresentam a ocasião. Dizem: “Nos vemos obrigados a aceitar as exigências dos EUA porque do contrário as companhias europeas já não poderão seguir aterrissando lá.“ Comportam-se como se os Estados europeus não tivessem nenhum meio de retorsão e não pudessem, por seu lado, proibir que as companhias dos EUA aterrissem na Europa. Na prática, querem fazer o mesmo que o governo estadunidense. E existe o projeto de instaurar intercâmbios de informação similiares no âmbito europeu.
Silvia Cattori : Na Grã Bretanha, as leis “antiterroristas” permitem processar a toda pessoa que expresse pontos de vista considerados como suscetíveis de “criar uma atmosfera favorável ao terrorismo.” Podem estender-se essas leis a outros Estados?
Jean-Claude Paye: Sim, na Grã Bretanha, o governo Blair pode criminalizar através da lei toda forma de oposição radical à sua política exterior. No continente, os Estados tratam de atuar através da jurisprudência. Houve um processo muito interessante a respeito de militantes e simpatizantes do DHKPC na Bélgica, uma organização de oposição radical turca [4], que demonstra como o poder trata de criar tribunais de exceção para introduzir uma jurisprudência de exceção. Através da criação destes tribunais, o poder trata de criminalizar toda forma de apoio, embora seja verbal, a grupos rotulados como “terroristas” pelos EUA, inscritos depois na lista européia de organizações “terroristas”.
Silvia Cattori : Resumindo, essas leis “antiterroristas” estabelecidas depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, servem não só aos objetivos do governo Bush, como também aos dos governos europeus?
Jean-Claude Paye: As medidas das que falamos foram estabelecidas antes de 11 de setembro de 2001. A Lei Patriota reúne um conjunto de medidas que já existiam parcialmente. O objetivo da Lei Patriota não foi só impor as medidas adotadas, porém, dar-lhes legitimidade. O que era isolado, dispersso, está agora reunido numa lei só. O que outorga legitimidade às medidas que são adotadas.
Silvia Cattori : Pode-se deducir que os EUA precisavam de um gande atentado para impor esta modificação do direito penal?
Jean-Claude Paye: É óbvio! Temos que saber que a Lei Patriota, que foi apresentada três dias depois dos atentados, tem 128 páginas. O sistema penal dos EUA é complexo, funciona por referências. Isso quer dizer que uma lei modifica o conteúdo de outras leis penais. Se se toma o conjunto dessas modificações, isso corresponde a 350 páginas. Necessita-se pelo menos de um ano para redigir um texto semelhante.
Com respeito à União Européia, não é menos caricaturesco. As duas decisões marco – a relativa ás organizações “terroristas” e aquela relativa à ordem de arresto européia –foram apresentadas uma semana depois dos atentados. Também neste caso trata-se de textos que estavam prontos. Esperava-se a ocasião adequada para aprova-los.
Silvia Cattori : O que quer dizer que Bush desde 2001, e Sarkozy agora, podem utilizar esses procedimentos de exceção para transformar em inimigos a quem quiserem?
Jean-Claude Paye: Quando adotaram esses textos, já se tinha uma boa idéia de aonde poderiam levar. A lista de redes “terroristas” vem da União Européia. É estabelecida por um regulamento europeu de 2001. No meu livro “La fin de l’État de droit! [O fim do Estado de direito], menciono o caso de um comunista filipino, José Maria Sison, refugiado político reconhecido que havia obtido asilo político na Holanda. Inscrito na lista “terrorista” dos EUA, seu nome passou a ser inscrito na lista “terrorista” holandesa. O senhor Sison descobriu depois que estava inscrito na lista “terrorista” quando bloquearam suas contas e os expulsaram do alojamento social que lhe tinham asignado. Posteriormente, foi retirado da lista holandesa, mas como, entretanto, havia sido inscrito sobre a lista européia do Conselho, o governo holandês se serviu do pretexto de que o senhor Sison figurava sobre a lista “terrorista” européia, para manter as disposições que não podia justificar.
O interessante do caso é que, o 11 de junho de 2007, a Corte Européia de Luxemburgo anulou a decisão do Conselho de Europa. Estipulou que não existiam motivos para inscrever o senhor Sison na lista de “terrorismo” do Conselho que permite o bloqueio de contas.
O veredito estipula claramente que a ausencia de “motivos pertinentes” e o não respeito dos direitos de defesa levou à decisão de anular a decretação do Conselho de Europa.
No en tanto, em 28 de agosto, a policía holandesa voltou arrestar o senhor Sison, violando a decisão da Corte de Justiça.
Este caso é significativo das relações actuais entre a Justiça – que é a última instituição de resistência contra a concentração de poderes nas mãos do executivo – e a polícia. Isto demonstra que a polícia faz o que quer, violando as decisões da justiça.
Silvia Cattori : Pareceria que começou a transcrição sobre a lista “terrorista” francesa dos decretos promulgados recentemente por George Bush que criminalizam às organizações e indivíduos que se opõem à política autal no Iraque e no Líbano. Uma lista de nomes que poderia ser publicado proximamente em conjunto pela França e os EUA. Quando foi votado em janeiro de 2006 pelo Parlamento na França o dispositivo legislativo relativo ao branqueamento [5] ninguém se imaginou que seria utilizado para atacar os opoentes políticos.
Jean-Claude Paye: Em cada país, existe uma lista interna de organizações “terroristas”. Em geral, trata-se da simples transcrição da lista do Conselho da Europa, à qual acrescentam elementos complementares.
Inteiro-me no que se refere ao Líbano. Parece que aqui acrescentaram elementos complementares sobre elementos da oposição no Líbano. Seria interessante saber se esses elementos vão ser integrados à lista do Conselho da Europa.
O que declara que alguém é “terrorista” não é um tribunal; é uma simples autoridade administrativa que te inscreve, sem que exista nenhuma explicação que justifique que te tenham colocado dentro dessa lista “terrorista.”
Silvia Cattori : Que lhe inspira isso tudo?
Jean-Claude Paye: Isto demonstra que quae todos os poderes se concentram atualmente nas mãos do executivo. Que o executivo possui atualmente poderes judiciais. O poder executivo é quem decide que se pode tomar tal ou qual medida na tua contra.
O ejemplo com respeito à oposição no Líbano e o exemplo de José Maria Sison, são exatamente o mesmo. Trata-se de decisões sem motivação. Com a ressalva de que, no caso do Líbano, há uma extensão, já que não basta com ser membro de uma organização que tem sido qualificada de “terrorista” para ser incriminado, mas, simplesmente ter contatos com seus membros. É uma tendência geral que prevalece no nível da aplicação das legislações “antiterroristas”.
Silvia Cattori : Por tanto, o objetivo da Lei Patriota y de ouras leis “antiterroristas”, é atacar as liberdades fundamentais?
Jean-Claude Paye: Sim, o objetivo é suprimir as liberdades fundamentais.
Silvia Cattori : Poderia se esperar que todas as forças políticas denunciaram essas norma de exceção. A esquerda, que se apresenta como defensora da justiça social, não deveria mobilizar-se, exigir que se volte de imediato ao Estdo de direito?
Jean-Claude Paye: A esquerda? Qual esquerda? Olha os EUA. Os demócratas votam em favor das leis mais liberticidas elaboradas pelo partido republicano. A Lei de Comissões Militares [MCA, em suas siglas em inglês], adotada em 2006, voi votada de modo igual por uma parte do partido democrata, que, no entanto, é majoritário na Câmara e que tinha a possibilidade de impedir que fosse aprovada essa lei.
Conosco é o mesmo. Não se vê a diferença com a direita quando a esquerda está no poder, à parte de uma aceleração, como é o caso com o presidente Sarkozy. Por exemplo, na França, as primeiras medidas de vigilância da Rede, medidas de vigilância global, foram estabelecidas pelo governo de Lionel Jospin.
O único poder que manifesta uma pequena resistência é o poder judicial. Nos EUA tem decretos adotados pelo executivo que são anulados. Por exemplo, quando a Corte de Cassação na Bélgica anula por vício de forma o juízo em apelação de militantes do DHKCP, é uma resistência ao aparato judicial. O problema é que não há nenhuma relevância na sociedade civil. Essa ausência de relevância se soma ao silêncio dos meios. Não se pode esperar que uma instituição isolada possa resistir durante muito tempo.
Silvia Cattori : Mas, é um ataque contra a liberdade de opinião que se estende ao mundo inteiro. Portanto, é fundamental que os partidos políticos se preocupem com essas desviações, e que os cidadãos saibam que essas leis permitem, sobre a base de uma simples suspeita, que se mantenha qualquer um na prisão sem acussação e sem processo; que já ninguém está protegido pela lei, que se trata de uma arbitrariedade total! Como se pode explicar que nos Foros Sociais, os “aaltermundistas”, os responsáveis de Attac, não coloquem esses temas no centro do debate?
Jean-Claude Paye: Não falaz nisso. Não querem falar. Isso toca problemas fundamentais. Não querem falar desses problemas porque deveriam afrontar diretamente o poder. Essas preocupações lhes são secundárias. Também não formam parte do programa de Attac. Falam da taxa Tobin, de coisas periféricas. Está-se numa sociedade psicótica, uma sociedade do não-enfrentamento.
Os que defendem os cidadãos nunca são os partidos que governam. Cada vez que os partidos aprovaram medidas favoráveis aos cidadãos, o fizeram porque havia uma relação de forças que os obrigava a fazê-lo. A democracia se conquista a-cada-dia, nunca é concedida.
Se se estudam e explicam as leis “antiterroristas” se despe exatamente a natureza do poder. Não se pode falar de poder democrático, se vê uma sociedade que já vai a caminho da ditadura. Se vê cada nova medida adotada é pior do que a precedente. As coisas estão muito claras. Mas se negam a vê-las tal como elas são.
O problema fundamental não é que o poder se trasnforme em ditadura, porque, como o demonstra a história, um poder incontrolável se converte sempre em ditadura. O problema fundamental da nossa época é a obrigação da gente ante esse processo. E isso constitui um fenômeno bastante novo. A gente entrega ao poder e à maquinaria econômica suas liberdades; e em última instância, levando em consideração os problemas ecológicos e climáticos, sua supervivência como espécie viva.
Silvia Cattori : Desde quando presentiu que as coisas se desenvolviam nesse sentido, e que se proibiria que se expresse a gente que critica o sistema político e mediático?
Jean-Claude Paye: De fim dos anos noventa. Nessa época já se via o estabelecimento deste Estado policial. Mas, as leis estabelecidas naquele então já parecem quase democráticas se comparadas com o que vemos agora. O processo vive uma forte aceleração.
Silvia Cattori : Isso significa que a autoridade ejecutiva dos EUA ataca diretamente os directos funamentais dos cidadãos do mundo inteiro, dentre eles os da União Européia?
Jean-Claude Paye: Sim, evidentemente! Mas, não se trata só do executivo estadunidense, senão do conjunto dos executivos do planeta entre os quais existe uma verdadeira solidariedade contra suas populações. As prisões secretas da CIA são um bom exemplo desse processo [6]. No âmbito europeu, os governos têm sido diretamente integrados nesta organização da tortura. No melhor dos casos, tudo o que se pôde obter dos governos europeus é que se comportem como os três pequenos macacos: cegos, surdos e mudos [7].
Sílvia Cattori : Que vai acontecer com os que estão inscritos nessas listas “terroristas” que continuam sendo mantidas em segredo?
Jean-Claude Paye: As listas “terroristas” não são todas secretas. No âmbito europeu, só a lista “Europol” é secreta. Permite que se tomem medidas de vigilância e o uso de técnicas especiais secretas de vigilância e de investigação com respeito a pessoas identificadas como “terroristas” [8].
A lista do Conselho da Europa permite que se tomem medidas financieras, como o bloqueio de contas bancárias. Todos esse elementos serão utilizados se a relação de forças é favorável ao poder existente. O primeiro que há que fazer é revelar o que acontece, difundir o máximo de informações e fazer com que essas listas sejam conhecidas.
Silvia Cattori : Tudo isso não lhe sugere alguma analogia?
Jean-Claude Paye: Sim, com o clima dos anos trinta. Mas, atualmente se estabelece uma ditadura mundial. Uma espécie do “melhor dos mundos” e não um simples processo de “fascistização”.
Silvia Cattori : Desde 2001, seqÿestram-se pessoas, tortura-se a supostos “terroristas” de origem árabe e de confissão musulmana. Temos que esperar que amanhã se castigue os que denunciam esses abusos?
Jean-Claude Paye: O imperio necesita inimigos. Cria, inventa seus próprios inimigos.
O primeiro que há que se fazer é trazer à luz o que está oculto [9]. Há tantas leis que permitem fazer qualquer coisa, quando se queira! Mas, isso se faz em função da resistência imediata dos interessados. Antes existia um marco legislativo que nos protegia. Agora, podem fazer qualquer coisa se têm capacidade de impô-la. Hoje em dia, as coisas repousam sobre uma simples relação de forças.
Silvia Cattori : O senhor Dick Marty [10], nomeado pelo Conselho da Europa, poderá obter da União Européia a anulação destas leis ilegais?
Jean-Claude Paye: O informe que redigiu o señor Dick Marty é muito importante! Seu informe acerta o alvo, opõe-se à linha política dos governos europeus. Mas, na realidade, o senhor Marty não tem nenhum poder, seu informe não pôde mudar mudar nada porque vai na contracorrente. Porém, esse informe é essencial.
Silvia Cattori : Essas políticas que nos falam de justiça e liberdade, não são mais do que ar, nada?
Jean-Claude Paye: Temos que ser lúcidos: mostrar as coisas tais como são. Os que fazem críticas e se limitam a dizer: “Sim, temos que ter leis antiterroristas, é necessário lutar contra o terrorismo, mas há que evitar os abusos” não fazem outra coisa que legitimar o ponto de vista do poder. Há que mostrar que as leis que têm por objetivo a luta contra o “terrorismo”, são, na realidade, leis contras os povos.
A última lei promulgada nos EUA, a Lei de Comissões Militares, é uma lei constitucional de alcance mundial, como o demonstro no meu último livro “Global war on Liberty”. O presidente dos EUA tem a possibilidade de qualificar como inimigo a todo cidadão estadunidense ou a todo nacional de um país com o qual EUA não está em guerra. A gestão das populações, incluindo aos cidadãos estadunidenses, converte-se em um ato guerra e já não só em uma ação policial.
Tomemos o ejemplo do Acordo Swift. Swift é uma agência belga que se ocupa das transferências financeiras internacionais. Swift transmitiu desde 2001, todas as informações sobre as transações dos seus clientes violando não só a legislação belga, como a legislação européia [11]. O direito dos EUA aplicado na Europa.
Todo o que diz o governo estadunidense é do domínio da fé. A tese governamental sobre os atentados de 11 de setembro, ninguém pode crê-la racionalmente. O informe da Comissão não indica sequer que foi derrubada a terceira torre. É um informe psicótico no qual o discurso do amo substitui os fatos em si. Uma recente sondagem da Zogby demonstra que a maioria dos estadunidenses deseja que se reabra a investigação. [12] Enquanto que na Europa basta o fato de fazer perguntas para ser estigmatizado.
Silvia Cattori : Que mecanismo subsiste para exigir o retorno a um Estado de direito?
Jean-Claude Paye: Temos que deixar as coisas claras. Falar claro. Mostrar do que se trata. Depende da capacidade de resistencia da gente.
A luta “antiterrorista” é na realidade uma guerra contra as liberdades. Essa guerra contra as liberdades é a primeira etapa de uma guerra contra as populações. E a Lei de Comissões Militares é uma lei penal que tem carácter mundial e que, de fato, é um ato de soberania imperial. É uma lei que confunde relação policial e relação de guerra. É o estabelecimento de uma nova forma de Estado mundial que, ao integrar as funções de polícia e de guerra, lutas contra suas próprias populações.
Algo importante: esta lei se aplica no âmbito mundial, da possibilidade dos EUA, não só de seqüestrar, senão, sobretudo, de fazer entregar qualquer cidadão no mundo, quer dizer, a pessoas que tenha qualificado de “inimigos combatentes.”
Os acordos européus de extradição com EUA não se opõem a que as pessoas qualificadas de “inimigos combatentes” possam ser transferidas aos EUA. Portanto, é uma lei de alcance mundial. É um Ata constitutiva do Império.
Atualmente, o direito penal é constituinte. Isso já existiu na história de nossas sociedades. O direito penal exerce um papel constituinte nos períodos de transição (por exemplo, ao começo do capitalismo o direito penal foi dominante).
Se o directo penal é dominante atualmente é porque se prepara uma nova forma de direito de propriedade. É o que poderia ser chamado o fim da “propriedade de si próprio”. O conjunto de nossos dados pessoais tem deixado de nos pertencer. Pertencem ao Estado, e igualmente às firmas privadas. A dominação do direito penal prepara o estabelecimento desse futuro direito privado.
Silvia Cattori : A gente pensa geralmente que essas medidas afetam apenas a indivíduos determinados?
Jean-Claude Paye: Afetam a todo mundo. Afetam toda forma de resistência. Um “terrorista” chegou a ser alguém que não quer entregar suas liberdades ao poder, alguém que quer viver.
Silvia CattoriA partir deste verão (hemisfério norte), EUA cosideram como suspeitos de “terrorismo” os opoentes à sua política no Iraque e no Líbano [13]. O diretor da agência de imprensa libanesa New Oriente News, membro da Red Voltaire, já figura na lista. O governo Bush teria exigido ao gabinete de Sarkozy, que transcreva ao direito francês as novas listas de opositores políticos e que faça constar o jornalista Thierry Meyssan, quem já é pessoa non grata sobre território dos EUA. Surpreende-lhe este fato?
Jean-Claude Paye: Eu conhecia a exigência concreta de Bush a respeito de Thierry Meyssan. Mas, trata-se de um contexto de simples relação de forças num momento determinado. Quando se pensa na histeria que alguns chamados “intelectuais” franceses desenvolveram e nos ataques que Thierry Meyssan sofreu na França desde a aparição do seu livro sobre os atentados de 11 de setembro [14] que ousava apresentar as perguntas que tinham que ser feitas, já nada nos pode surpreender.
Meu trabalho mostra que as disposições “antiterroristas” têm por objetivo atacar os opositores políticos assim como as populações e não só os “islamitas”. Portanto, não podemos nos surpreender fundamentalmente, si isso se comprova, perante uma possível inscrição de Thierry Meyssan nas listas “terroristas”. Porém, isso indicaria que temos passado a uma nova etapa na criminalização da palavra opositora. Isso indicaria que o poder se sente perfeitamente cômodo, colocando à luz, objetivos que sermpre tem negado até agora.
Quem pode acreditar a tese governamental sobre os atentados de 11 de setembro? Quem pode acreditar que uma torre alcançada por um avião caia de modo controlado? O problema é que os EUA dão todas as informações que permitem pôr em dúvida sua tese, e a gente simula que não acredita. Nos encontramos perante um mecanismo perverso, no qual o indivíduo, para não enfrentar a realidade, simula que acredita no inverosímil.
Silvia Cattori : Apesar de que Thierry Meyssan revelou fatos que haveria que levar a sério, surpreendentemente, os jornalistas o têm difamado.
Jean-Claude Paye: A quem pertencerm esses jornais que difamaram Thierry Meyssan? Esses “jornalistas” são pessoas que copiam o que lhes dizem que digam. Conhece a muitos jornalistas “oficiais” que verifiquem suas fontes e que façam um trabalho sério de investigação?
Silvia CattoriSeus livros são importantes para todos os que defendem as liberdades.
Jean-Claude Paye: Escrevi esses livros porque acreditei que era necessário faze-lo. Quando vi que se aprovavam essas leis na Bélgica e por toda parte no mundo, tudo caminhava na mesma direção. Tinha que sublinhar essa coerência. Tem pouca gente que faça esse trabalho. Eu sou praticamente o único que trabalha de forma global. Todos esses dados não são coletados. Devo coletá-los, fazer o trabalho dos juristas e ao tempo, meu trabalho de sociólogo: poder pensar a nova forma de organização do poder. Meus trabalhos levam em conta os dois lados do Atlântico. Estudiam, não só as leis antiterroristas senão todas as leis de controle social. Isso forma um todo.
Entrevista realizada em 30 de agosto de 2007 _Versão em português de Raul Fitipaldi, de América Latina Palavra Viva, tomada da versão em francês feita para Rebelión por Germán Leyens.