Texto de Luis Vidigal Rosado Pereira
A EUROPA À MERCÊ DOS ALGORITMOS DE THIEL
"A recente aquisição pela NATO de um sistema militar avançado de inteligência artificial da Palantir Technologies não é apenas uma notícia sobre tecnologia e defesa é, antes de mais, um sinal preocupante da crescente cedência da Europa a interesses estratégicos e ideológicos alheios.
A Palantir, empresa fundada e moldada por Peter Thiel, não é uma simples fornecedora de software. É um bastião de uma visão do mundo profundamente ideológica, que desafia abertamente os valores democráticos que a própria NATO proclama defender.
Peter Thiel, que em várias ocasiões declarou que "a liberdade e a democracia são incompatíveis", é o verdadeiro braço intelectual e tecnológico da actual oligarquia de Donald Trump e do seu testa de ferro Elon Musk. Despreza o funcionamento das instituições democráticas tradicionais e defende um nacionalismo agressivo na esfera tecnológica.
Thiel promove a ideia de que as elites empresariais ou tecnológicas não devem ser eleitas e devem assumir as rédeas do poder, desvalorizando normas democráticas em nome da eficiência, segurança e grandeza nacional, o que nos convida a reviver os anos 30 do século passado.
A sua actuação política, investimentos e declarações públicas mostram como o trumpismo tecnológico, que ele representa, pode minar por dentro os valores democráticos, inclusive na Europa, como se vê na crescente influência da sua empresa Palantir.
Que implicações terá a entrega do cérebro digital da aliança militar ocidental a uma empresa cuja bússola moral e política aponta para o autoritarismo tecnológico? Ao delegar o processamento e análise de inteligência militar sensível a uma empresa norte-americana liderada por alguém com uma agenda declaradamente autoritária e tecnocrática, a Europa arrisca-se a abdicar não só da sua soberania digital, mas da sua integridade estratégica.
Não se trata de teoria da conspiração, mas de constatações objectivas, pois a Palantir já foi criticada por colaborar com agências de imigração norte-americanas em operações altamente polémicas, os seus algoritmos têm sido acusados de opacidade e enviesamento e a própria empresa promove uma filosofia de segurança baseada no "conhecimento total", num modelo quase panóptico que levanta sérias questões de privacidade e ética.
Mais alarmante ainda é a passividade europeia. Em vez de desenvolver alternativas robustas dentro do espaço europeu, promovendo inovação, autonomia e valores comuns, opta-se por importar ferramentas com ADN ideológico norte-americano perigosamente autoritário.
Neste momento crítico, em que o mundo multipolar se reconfigura, a Europa não pode continuar a vestir o fato de vassalo digital dos Estados Unidos. A defesa europeia deve ser feita com tecnologia europeia, regida por princípios europeus ou então, arriscamo-nos a proteger as nossas fronteiras com as ideias de quem, no fundo, despreza o que está dentro delas"
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