Ao segundo dia do novo governo Tsipras, gregos rejubilam, mercados enervam-se e ministro das Finanças apresenta planos ao jeito do programa implementado pelos EUA após 1929 para salvar "todos os cidadãos da Europa"
A luva cor-de-rosa que simbolizou o último dos protestos em Atenas antes das eleições antecipadas de domingo já desapareceu de Atenas. E com ela as grades que, há vários meses e a mando do ministro da Administração Interna, protegiam o parlamento dos manifestantes irados com a austeridade e a pobreza em que se viram mergulhados nos últimos anos.
À porta do Ministério das Finanças, ontem, antes da primeira conferência de imprensa do ministro Yanis Varoufakis, um grupo de empregadas de limpeza aplaudiu o novo chefe das Finanças da Grécia quando este lhes anunciou que vão ser recontratadas, numa correcção do erro que foi o seu despedimento pelo anterior governo conservador de Antonis Samaras. Depois de várias semanas em protesto e de meses sem conseguirem encontrar outros empregos, as mulheres sorriram. Como terão sorrido os milhares de gregos que recebem o salário mínimo, aumentado de 480 para 751 euros "com efeito imediato". E as 300 mil famílias mais pobres que em breve vão passar a ter electricidade gratuita suportada pelo Estado. E os trabalhadores do Pireu, o porto de Atenas, da empresa pública de energia, DEH, e dos aeroportos, cujas privatizações foram suspensas "imediatamente" pelo novo ministro do Ambiente e da Energia, Panayiotis Lafazanis.
Foi este o cenário ontem na Grécia, ao segundo dia do mandato de Alexis Tsipras, cujo executivo tomou posse na terça-feira após vencer as legislativas quase com maioria absoluta. Num primeiro passo, o novo governo reduziu de 18 para dez o número de ministérios, entre os quais se contam agora quatro superministérios nas áreas mais afectadas pelas reformas exigidas pela troika - Saúde, Educação, Cultura e Economia -, cumprindo uma das promessas eleitorais.
Logo a seguir Varoufakis falou ao telefone com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, para começar a discutir "alternativas políticas" às reformas que quase destruíram o país - e puseram os contribuintes gregos a pagar uma dívida de 240 mil milhões de euros e juros que continuam a subir em flecha.
Culpa disso, disse Varoufakis no seu primeiro encontro com os jornalistas, é o cenário catastrófico que está a ser pintado desde que o Syriza começou a ganhar terreno para a vitória do passado fim- -de-semana. "Não queremos duelos, nem ameaças, nem o suspense de quem vai ceder primeiro", declarou, criticando os media internacionais por "apostarem numa batalha com a União Europeia".
O que o novo governo quer é "uma nova relação de confiança e solidariedade" europeias. E o próprio líder do Eurogrupo, sublinhou o ministro, já lhe disse ao telefone que "vai ser alcançado um acordo". A mesma garantia foi deixada por Tsipras após a primeira reunião do seu gabinete. "Estamos prontos para negociar o nosso plano", disse aos ministros, entre eles o da Defesa, Panos Kammenos, o único do partido nacionalista Gregos Independentes, com que o Syriza se coligou para governar. "Não vamos procurar uma solução catastrófica [saída do euro], mas também não vamos consentir nesta política de submissão."
Foi mais um aviso à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional, uma viragem no jogo depois de inúmeros alertas da troika ao Syriza ao longo da campanha eleitoral grega. E os mercados ficaram nervosos. Desde a eleição de Tsipras, o index grego já caiu 10%. E ontem os principais quatro bancos gregos perderam um quarto do seu valor. Mas nada disso parece travar as aspirações de reestruturar uma dívida externa que corresponde a 175% do PIB do país em negociações urgentes com os credores.
"A Grécia não se pode dar ao luxo de esperar até Junho para concluir a revisão do seu programa com os parceiros", avisou Gikas Hardouvelis, chefe das Finanças gregas sob o executivo de Samaras ao passar a pasta a Varoufakis. A declaração faz referência ao prazo imposto por Mario Draghi, presidente do BCE, para rever a elegibilidade da Grécia para o programa de compra de títulos de dívida soberana por forma a injectar biliões na economia europeia até 2016. Varoufakis teve resposta à altura, demolindo a retórica de um governo que, sublinhou, mergulhou a Grécia numa "espiral económica fatal" após o "erro tóxico gigante cometido neste mesmo edifício". Hardouvelis fitou o vazio. "Hoje a negação do problema acaba", acrescentou o novo ministro sob fortes aplausos. "Estamos determinados a alterar a lógica por trás do problema."
A solução, diz, passa pela implementação de um "New Deal pan-europeu", semelhante ao programa de investimento criado nos Estados Unidos após o crash económico de 1929. Um "acordo que vai reduzir os custos da crise autoperpetuadora da Grécia, não só para os cidadãos gregos, mas para os da Eslováquia, da Holanda, de Itália, de Portugal, da Alemanha, para todos os cidadãos da Europa". Um plano alardeado por Tsipras há vários meses que a troika continua a recusar, mas a julgar pelo empenho do novo executivo poderá mesmo avançar (a Irlanda já deu o seu apoio formal). Para Varoufakis, "a Europa já mostrou que pode encontrar soluções e evitar ultimatos". No encontro com Dijsselbloem amanhã em Atenas, o primeiro do ministro com um líder europeu, poderá soar o tiro de partida.
À porta do Ministério das Finanças, ontem, antes da primeira conferência de imprensa do ministro Yanis Varoufakis, um grupo de empregadas de limpeza aplaudiu o novo chefe das Finanças da Grécia quando este lhes anunciou que vão ser recontratadas, numa correcção do erro que foi o seu despedimento pelo anterior governo conservador de Antonis Samaras. Depois de várias semanas em protesto e de meses sem conseguirem encontrar outros empregos, as mulheres sorriram. Como terão sorrido os milhares de gregos que recebem o salário mínimo, aumentado de 480 para 751 euros "com efeito imediato". E as 300 mil famílias mais pobres que em breve vão passar a ter electricidade gratuita suportada pelo Estado. E os trabalhadores do Pireu, o porto de Atenas, da empresa pública de energia, DEH, e dos aeroportos, cujas privatizações foram suspensas "imediatamente" pelo novo ministro do Ambiente e da Energia, Panayiotis Lafazanis.
Foi este o cenário ontem na Grécia, ao segundo dia do mandato de Alexis Tsipras, cujo executivo tomou posse na terça-feira após vencer as legislativas quase com maioria absoluta. Num primeiro passo, o novo governo reduziu de 18 para dez o número de ministérios, entre os quais se contam agora quatro superministérios nas áreas mais afectadas pelas reformas exigidas pela troika - Saúde, Educação, Cultura e Economia -, cumprindo uma das promessas eleitorais.
Logo a seguir Varoufakis falou ao telefone com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, para começar a discutir "alternativas políticas" às reformas que quase destruíram o país - e puseram os contribuintes gregos a pagar uma dívida de 240 mil milhões de euros e juros que continuam a subir em flecha.
Culpa disso, disse Varoufakis no seu primeiro encontro com os jornalistas, é o cenário catastrófico que está a ser pintado desde que o Syriza começou a ganhar terreno para a vitória do passado fim- -de-semana. "Não queremos duelos, nem ameaças, nem o suspense de quem vai ceder primeiro", declarou, criticando os media internacionais por "apostarem numa batalha com a União Europeia".
O que o novo governo quer é "uma nova relação de confiança e solidariedade" europeias. E o próprio líder do Eurogrupo, sublinhou o ministro, já lhe disse ao telefone que "vai ser alcançado um acordo". A mesma garantia foi deixada por Tsipras após a primeira reunião do seu gabinete. "Estamos prontos para negociar o nosso plano", disse aos ministros, entre eles o da Defesa, Panos Kammenos, o único do partido nacionalista Gregos Independentes, com que o Syriza se coligou para governar. "Não vamos procurar uma solução catastrófica [saída do euro], mas também não vamos consentir nesta política de submissão."
Foi mais um aviso à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional, uma viragem no jogo depois de inúmeros alertas da troika ao Syriza ao longo da campanha eleitoral grega. E os mercados ficaram nervosos. Desde a eleição de Tsipras, o index grego já caiu 10%. E ontem os principais quatro bancos gregos perderam um quarto do seu valor. Mas nada disso parece travar as aspirações de reestruturar uma dívida externa que corresponde a 175% do PIB do país em negociações urgentes com os credores.
"A Grécia não se pode dar ao luxo de esperar até Junho para concluir a revisão do seu programa com os parceiros", avisou Gikas Hardouvelis, chefe das Finanças gregas sob o executivo de Samaras ao passar a pasta a Varoufakis. A declaração faz referência ao prazo imposto por Mario Draghi, presidente do BCE, para rever a elegibilidade da Grécia para o programa de compra de títulos de dívida soberana por forma a injectar biliões na economia europeia até 2016. Varoufakis teve resposta à altura, demolindo a retórica de um governo que, sublinhou, mergulhou a Grécia numa "espiral económica fatal" após o "erro tóxico gigante cometido neste mesmo edifício". Hardouvelis fitou o vazio. "Hoje a negação do problema acaba", acrescentou o novo ministro sob fortes aplausos. "Estamos determinados a alterar a lógica por trás do problema."
A solução, diz, passa pela implementação de um "New Deal pan-europeu", semelhante ao programa de investimento criado nos Estados Unidos após o crash económico de 1929. Um "acordo que vai reduzir os custos da crise autoperpetuadora da Grécia, não só para os cidadãos gregos, mas para os da Eslováquia, da Holanda, de Itália, de Portugal, da Alemanha, para todos os cidadãos da Europa". Um plano alardeado por Tsipras há vários meses que a troika continua a recusar, mas a julgar pelo empenho do novo executivo poderá mesmo avançar (a Irlanda já deu o seu apoio formal). Para Varoufakis, "a Europa já mostrou que pode encontrar soluções e evitar ultimatos". No encontro com Dijsselbloem amanhã em Atenas, o primeiro do ministro com um líder europeu, poderá soar o tiro de partida.