segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O nocaute do império.

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O nocaute do império, ou a guerra que acabou no momento em que começou


Os Estados Unidos atacaram a Síria em 3 de setembro, mas a Rússia impediu que os mísseis atingissem Damasco. Foi aí que começou o xeque-mate ao governo Obama e aos neoconservadores belicistas que o controlam


Por Baby Siqueira Abrão- São Paulo

Eram exatamente 10h16 da manhã de terça-feira, 3 de setembro, quando os radares da estação de Armavir, na Rússia, detectaram "dois objetos balísticos" voando na direção do mar Mediterrâneo. (1) Não demorou muito para o Ministério da Defesa de Israel primeiro negar, mas depois assumir ter testado mísseis usados como alvos para um sistema antimísseis financiado pelos Estados Unidos. Tratava-se apenas de um exercício militar sem maiores consequências: os mísseis caíram no Mediterrâneo e tudo ficou por isso mesmo.

O assunto continuaria assim, encerrado, se o jornalista Daoud Rammal, do jornal libanês As-Safir, não tivesse veiculado uma notícia que, de tão importante, foi republicada por outro jornal libanês, o Al-Manar.  (2) Rammal revelou que uma fonte diplomática bem-informada contou a verdadeira história do lançamento dos dois mísseis na manhã de 3 de setembro.

Segundo essa fonte, eles saíram de uma base militar da OTAN situada na Espanha e foram detectados de imediato pelos radares russos, que cobrem uma vasta área, da Europa ao Irã. Esse foi o primeiro movimento do ataque militar dos Estados Unidos à Síria, uma guerra que teria sido iniciada na manhã daquele 3 de setembro caso não existisse uma "pedra" - ou melhor, um eficaz sistema antimísseis - no meio do caminho: o da Rússia.

O sistema de defesa russo interceptou os dois mísseis estadunidenses, impedindo que atingissem Damasco, a capital síria. Um deles explodiu no ar e outro foi desviado para o mar. A explicação dada por Israel não passou de cortina de fumaça para proteger seu maior aliado, os Estados Unidos - que, de acordo com o diplomata, pediu o favor às autoridades israelenses.

Naquela manhã, o ministro da Defesa russo deu uma declaração pública omitindo dois pontos fundamentais: de onde tinham vindo os mísseis e para onde se dirigiam. Essa omissão teve dois objetivos, disse o chefe de inteligência russo a seu colega estadunidense numa comunicação feita um momento depois de o ataque contra a Síria ter sido lançado - e interceptado. "Atacar Damasco é atacar Moscou", disse o oficial russo. "Omitimos a verdade em nossa declaração oficial para preservar as relações entre nosso país e os Estados Unidos e para evitar a guerra. Portanto, vocês devem reconsiderar agora mesmo suas políticas, abordagens e intenções em relação à crise síria, assim como podem estar certos de que não conseguirão eliminar nossa presença no Mediterrâneo."

Foi nesse momento que o governo dos Estados Unidos pediu que Israel se responsabilizasse pelo lançamento dos foguetes - e que, literalmente, perdeu o chão. Obama estava certo de que renderia Bashar al-Assad, presidente da Síria, e pretendia ir ao G20, na Rússia, para negociar com Vladimir Putin o destino de Assad. Em vez disso, foi obrigado a pedir o apoio das nações presentes ao encontro para atacar a Síria, quando, na verdade, sabia que isso não o livraria do xeque-mate russo. Cientes do episódio no Mediterrâneo, os aliados de sempre negaram ajuda aos Estados Unidos, e o Parlamento britânico se colocou contra a aliança David Cameron-Barack Obama para intervir militarmente na Síria.
A estratégia russa provocou total confusão no governo estadunidense, que ficou sem saber o que fazer. Sem apoio internacional e com os sistemas de defesa russos impedindo que seus mísseis alcançassem a Síria, os Estados Unidos entrariam numa guerra perdida de antemão. Mas, se não entrassem, teriam sua imagem abalada com o não cumprimento da promessa de declarar guerra à Síria pela ultrapassagem da "linha vermelha", representada por um ataque com armas químicas que o governo sírio não realizou e que, hoje, é alvo de dúvidas sobre se realmente aconteceu nas proporções em que os Estados Unidos afirmam que aconteceu.

Mais uma vez a Rússia, dessa vez acompanhada pela Síria, se mobilizou para tirar o governo estadunidense do limbo. A proposta da colocação do arsenal químico sírio sob controle internacional, para posterior destruição, foi o gongo que salvou Obama da lona. Mas, obviamente, não evitou o nocaute. Por isso o presidente dos Estados Unidos baixou o tom, mandou John Kerry à mesa de negociações com o russo Sergey Lavrov e tratou de acalmar os ânimos dos congressistas que queriam votar a favor da guerra contra a Síria.

Agora falta decidir o que fazer com os países que insistem em continuar armando os milhares de mercenários terroristas que lutam contra o povo sírio e que não vão aceitar, de uma hora para outra, a perda do emprego. Também falta decidir como retomar as armas químicas que foram entregues a eles e que são um risco potencial para o mundo. Sobretudo falta convencer os sionistas de Israel e dos Estados Unidos de que o belicismo não leva a nada. Como mostrou Pepe Escobar em seu artigo de ontem no Asia Times Online (3) enquanto os sionistas e seus aliados tiram o sono do mundo para tomar à força as riquezas do Oriente Médio, a China vai tecendo uma megazona de livre-comércio na antiga rota da seda, rica em óleo e gás, com parceiros como Rússia e Irã. Sem disparar um único tiro.
Em tempo: Vladimir Putin, presidente da Rússia, é mestre de xadrez, e considerado um dos mais brilhantes.
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(1)   (http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPE98202420130903)
(2)  (http://www.almanar.com.lb/english/adetails.php?eid=110043&cid=31&fromval=1&frid=31&seccatid=71&s1=1)
      (3) http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MID-04-130913.html (em português, http://goo.gl/KQc0bt)


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